Testosterona feminina: entenda mais sobre o assunto

9 de março de 2023
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Apesar de ser um hormônio popularmente ligado ao organismo dos homens, a testosterona também desempenha funções essenciais no corpo das mulheres, mesmo que presente em uma quantidade menor que no gênero oposto.

Esse hormônio é responsável pela regulação de algumas funções biológicas e pela parte reprodutora da mulher. 


Porém, mesmo na ausência de evidências científicas, a reposição da testosterona para a mulher tem se tornado cada vez mais comum em busca de efeitos estéticos, para estimular a libido, ou para melhorar a performance nos esportes.


Mas, será que essa reposição é mesmo necessária ou segura? Descubra neste artigo!


O que é a testosterona?


A testosterona, assim como o estradiol, é um hormônio esteróide produzido a partir do colesterol. Na mulher, essa produção acontece nos ovários, glândulas adrenais e também por conversão a partir de outros hormônios, em tecidos periféricos, como músculo e gordura. 


Através de mecanismos biológicos essa substância tem funções específicas no organismo da mulher. 


É importante para o desenvolvimento e manutenção de certos aspectos do organismo feminino, como por exemplo, o ganho de massa muscular, massa óssea e distribuição de gordura no corpo. 


Além disso, é uma substância que está intimamente ligada com a função sexual, apesar de níveis baixos dosados no sangue geralmente não poderem ser correlacionados com a falta de libido, o desejo sexual.


Neste ponto, é importante ressaltar que a libido feminina é um fator complexo e multifatorial e que pensar que somente um hormônio seria a resposta para suas disfunções é inadequado e reducionista do ponto de vista biológico.


Temos um artigo que fala mais sobre a  libido no nosso Blog!



Ademais, é preciso frisar que os níveis de testosterona variam de mulher para mulher, com a idade, com a fase do ciclo menstrual e a sua reposição geralmente não é necessária, exceto em casos bastante específicos.


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Qual o nível ideal de testosterona na mulher?


Os valores de testosterona feminina variam bastante e estão ligados às condições fisiológicas, estilo de vida, idade, fase do ciclo menstrual, entre outros aspectos.


Não existe uma determinação exata de qual deve ser a medida do exame colhido no sangue.

Mas, de forma geral, os níveis ficam entre:


  • Idade entre 16 e 21 anos: 17,55 – 50,41 ng/dL;
  • Acima de 21 anos: 12,09 – 59,46 ng/dL;
  • Durante a menopausa: até 48,93 ng/dL.


A título de curiosidade, apesar destes valores ficarem bem abaixo da testosterona dosada nos homens, na mulher os níveis circulantes de testosterona são bem maiores que os de estradiol, o principal hormônio feminino. 


Enquanto que a testosterona vem com resultados em ng/dL (nanograma por decilitro), o estradiol vem em pg/mL ou dL (picograma por mililitros ou decilitros). Um nanograma é equivalente a mil picogramas.


A verificação dos níveis de testosterona é feita por meio de exame laboratorial. Podemos solicitar a dosagem de testosterona total ou livre no sangue, por exemplo.


Contudo, é preciso reforçar que os métodos utilizados para a dosagem de testosterona foram desenvolvidos tendo em vista o organismo masculino, que possui valores de testosterona de três a dez vezes maiores do que o corpo das mulheres.


Quando o valor está acima da referência para idade e fase do ciclo devemos ficar atentos, mas quando está abaixo não podemos confiar.


Outra coisa que impede a confiança completa neste tipo de exame é que nem sempre a quantidade dosada no sangue se correlaciona com a quantidade de hormônio agindo em nível celular.


Além disso, o uso de medicações, como outros hormônios (incluindo a pílula anticoncepcional), também pode ter interferência no resultado da dosagem.


Por isso, avaliar com cautela os resultados dos exames é fundamental para chegar em um quadro clínico correto.


Quais são os motivos e sintomas da diminuição da testosterona?


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É natural que a testosterona vá diminuindo com o passar do tempo, principalmente na menopausa, e nem sempre haverá necessidade de reposição.


Existem ainda outros fatores que podem contribuir para este quadro, por exemplo:


  • Sedentarismo;
  • Alimentação inadequada;
  • Falência ou retirada dos ovários;
  • Anorexia nervosa;
  • Insuficiência adrenal;
  • Doenças autoimunes, como artrite reumatoide e lúpus;
  • AIDS;
  • Uso de remédios com estrogênios, antiandrogênicos e glicocorticóides.


Além disso, o uso de anticoncepcionais hormonais pode levar à redução dos níveis de testosterona livre. 


Isso porque, a pílula anticoncepcional estimula a produção da proteína Globulina Ligadora de Hormônio Sexual (SHBG), que diminui a concentração da forma ativa da testosterona.


Inclusive, em alguns casos, a diminuição da testosterona pode persistir mesmo com a suspensão do uso do contraceptivo.

Alguns sintomas podem estar associados a essa diminuição do hormônio:


  • Redução da libido;
  • Dificuldade de chegar no orgasmo;
  • Falta de disposição;
  • Baixa autoestima;
  • Depressão;
  • Redução da massa muscular e/ou massa óssea;
  • Grande aumento de gordura corporal e ganho de peso.


Testosterona feminina e a libido


Atualmente, muito se ouve falar sobre a relação da testosterona e o desejo feminino.


Os hormônios androgênios, em parte, são importantes para a sexualidade da mulher. 


Isso porque, eles influenciam o desejo, a energia e o bem-estar. Além disso, eles também agem em regiões do sistema nervoso e do córtex que são importantes para a percepção do prazer.


Níveis baixos de testosterona podem afetar a libido, além de dificultar a capacidade da mulher atingir o orgasmo. Embora dificilmente esta seja a única causa.


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Porém, recorrer diretamente à reposição de testosterona assim que há queda na libido é uma atitude equivocada, já que o desejo sexual é multifatorial.


Diferentemente dos homens, para as mulheres o prazer é algo mais complexo e fatores mentais e emocionais têm o poder de influenciar a vontade de transar, a sensação de prazer e o orgasmo.


Mas então, quando repor a testosterona?


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Temos estudos que mostraram o benefício do uso da testosterona em mulheres na pós menopausa com transtorno do desejo sexual hipoativo, em conjunto à abordagem de outros possíveis fatores causais para o mesmo.


Alguns trabalhos têm sido realizados em mulheres antes da menopausa, mas os resultados são controversos.


É importante ressaltar que, de acordo com a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), ainda não existe respaldo de dados que comprovem a segurança do uso da testosterona a longo prazo - a maioria dos estudos tem seguimento curto.


Além disso, ainda de acordo com a Federação, existem evidências de que o uso de testosterona pode causar danos em alguns sistemas do organismo, como mecanismos neurobiológicos.


O uso de testosterona e outros derivados androgênicos com fim estético (ganho de massa muscular) ou esportivo não é recomendado por nenhuma sociedade médica e é considerado doping pelas agências reguladoras de esporte. Algumas progesteronas sintéticas com ação mais androgênica, como a gestrinona, também são incluídas neste grupo.


Por isso, é fundamental avaliar cada caso isoladamente para avaliar se a paciente pode se submeter à reposição de testosterona.

Normalmente, para que a reposição seja bem indicada, precisaremos de uma indicação clara para o uso e que os sintomas interfiram com a qualidade de vida da paciente. Além disso, essa mulher deve ser de baixo risco para complicações. 


Então, o tratamento poderá ocorrer com o uso de testosterona injetável, em comprimidos ou gel, a depender de cada indicação. 

Ressaltamos que a reposição não deve ser feita sem acompanhamento médico, pois pode trazer sérias consequências para a saúde da mulher. 


No contexto da menopausa, não faz sentido repor testosterona sem repor o estradiol em conjunto.


Dito isso, aproveito para avisar que não existe formulação de testosterona padronizada para o gênero feminino, de modo que se usa, quando necessário, adaptações de doses padronizadas para homens ou medicamentos manipulados.


Quais os riscos na reposição da testosterona para a mulher?



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Ainda existem muitas dúvidas e controvérsias sobre o assunto, mas muitos estudos indicam que o uso da testosterona de forma desnecessária ou em um prazo superior a 6 meses oferece uma série de riscos: 


  • Piora na acne;
  • Hirsutismo (aparecimento de pelos em regiões incomuns do corpo);
  • Aumento do clitóris;
  • Engrossamento da voz;
  • Riscos cardiovasculares;
  • Eventos tromboembólicos;
  • Hepatopatias (doenças crônicas do fígado);
  • Aumento no risco de câncer de mama e endométrio.


Sobre isso é importante ressaltar que alguns desses efeitos adversos não se revertem com a suspensão do uso, como os efeitos sobre o clitóris e sobre a voz.


O uso em ciclos não parece ser mais seguro que o uso contínuo.


Devemos ressaltar que existem muitas práticas diárias ou terapias alternativas ao uso da testosterona que podem favorecer o bem-estar femininos, por exemplo:


  • Prática de atividade física;
  • Alimentação adequada;
  • Alteração do método contraceptivo;
  • Acompanhamento psicológico;
  • Uso de laser vaginal;
  • Exercícios de fortalecimento pélvico. 


Já que estamos falando de um tratamento que pode gerar efeitos colaterais, discutir os riscos e benefícios com a sua Ginecologista é essencial! 


Marque uma consulta sempre que surgirem dúvidas! 


Dra Juliana Ribeiro - Ginecologista em São Paulo

Dra. Juliana Ribeiro

Ginecologia, Obstetrícia e Saúde Feminina


Ginecologista e Obstetra de formação, eu acredito que informação é a maior forma de poder que podemos ter. Como médica, tenho a missão de trazer a vocês o maior número de informações possíveis, a fim de poder ajudá-las a participar ativamente do cuidado da sua saúde.


Acredito que a prevenção é a melhor escolha sempre e que o engajamento da paciente no tratamento é a melhor forma de ele dar certo.

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