Apesar de ser um hormônio popularmente ligado ao organismo dos homens, a testosterona também desempenha funções essenciais no corpo das mulheres, mesmo que presente em uma quantidade menor que no gênero oposto.
Esse hormônio é responsável pela regulação de algumas funções biológicas e pela parte reprodutora da mulher.
Porém, mesmo na ausência de evidências científicas, a reposição da testosterona para a mulher tem se tornado cada vez mais comum em busca de efeitos estéticos, para estimular a libido, ou para melhorar a performance nos esportes.
Mas, será que essa reposição é mesmo necessária ou segura? Descubra neste artigo!
O que é a testosterona?
A testosterona, assim como o estradiol, é um hormônio esteróide produzido a partir do colesterol. Na mulher, essa produção acontece nos ovários, glândulas adrenais e também por conversão a partir de outros hormônios, em tecidos periféricos, como músculo e gordura.
Através de mecanismos biológicos essa substância tem funções específicas no organismo da mulher.
É importante para o desenvolvimento e manutenção de certos aspectos do organismo feminino, como por exemplo, o ganho de massa muscular, massa óssea e distribuição de gordura no corpo.
Além disso, é uma substância que está intimamente ligada com a função sexual, apesar de níveis baixos dosados no sangue geralmente não poderem ser correlacionados com a falta de libido, o desejo sexual.
Neste ponto, é importante ressaltar que a libido feminina é um fator complexo e multifatorial e que pensar que somente um hormônio seria a resposta para suas disfunções é inadequado e reducionista do ponto de vista biológico.
Temos um artigo que fala mais sobre a libido no nosso Blog!
Ademais, é preciso frisar que os níveis de testosterona variam de mulher para mulher, com a idade, com a fase do ciclo menstrual e a sua reposição geralmente não é necessária, exceto em casos bastante específicos.

Qual o nível ideal de testosterona na mulher?
Os valores de testosterona feminina variam bastante e estão ligados às condições fisiológicas, estilo de vida, idade, fase do ciclo menstrual, entre outros aspectos.
Não existe uma determinação exata de qual deve ser a medida do exame colhido no sangue.
Mas, de forma geral, os níveis ficam entre:
- Idade entre 16 e 21 anos: 17,55 – 50,41 ng/dL;
- Acima de 21 anos: 12,09 – 59,46 ng/dL;
- Durante a menopausa: até 48,93 ng/dL.
A título de curiosidade, apesar destes valores ficarem bem abaixo da testosterona dosada nos homens, na mulher os níveis circulantes de testosterona são bem maiores que os de estradiol, o principal hormônio feminino.
Enquanto que a testosterona vem com resultados em ng/dL (nanograma por decilitro), o estradiol vem em pg/mL ou dL (picograma por mililitros ou decilitros). Um nanograma é equivalente a mil picogramas.
A verificação dos níveis de testosterona é feita por meio de exame laboratorial. Podemos solicitar a dosagem de testosterona total ou livre no sangue, por exemplo.
Contudo, é preciso reforçar que os métodos utilizados para a dosagem de testosterona foram desenvolvidos tendo em vista o organismo masculino, que possui valores de testosterona de três a dez vezes maiores do que o corpo das mulheres.
Quando o valor está acima da referência para idade e fase do ciclo devemos ficar atentos, mas quando está abaixo não podemos confiar.
Outra coisa que impede a confiança completa neste tipo de exame é que nem sempre a quantidade dosada no sangue se correlaciona com a quantidade de hormônio agindo em nível celular.
Além disso, o uso de medicações, como outros hormônios (incluindo a pílula anticoncepcional), também pode ter interferência no resultado da dosagem.
Por isso, avaliar com cautela os resultados dos exames é fundamental para chegar em um quadro clínico correto.
Quais são os motivos e sintomas da diminuição da testosterona?

É natural que a testosterona vá diminuindo com o passar do tempo, principalmente na menopausa, e nem sempre haverá necessidade de reposição.
Existem ainda outros fatores que podem contribuir para este quadro, por exemplo:
- Sedentarismo;
- Alimentação inadequada;
- Falência ou retirada dos ovários;
- Anorexia nervosa;
- Insuficiência adrenal;
- Doenças autoimunes, como artrite reumatoide e lúpus;
- AIDS;
- Uso de remédios com estrogênios, antiandrogênicos e glicocorticóides.
Além disso, o uso de anticoncepcionais hormonais pode levar à redução dos níveis de testosterona livre.
Isso porque, a pílula anticoncepcional estimula a produção da proteína Globulina Ligadora de Hormônio Sexual (SHBG), que diminui a concentração da forma ativa da testosterona.
Inclusive, em alguns casos, a diminuição da testosterona pode persistir mesmo com a suspensão do uso do contraceptivo.
Alguns sintomas podem estar associados a essa diminuição do hormônio:
- Redução da libido;
- Dificuldade de chegar no orgasmo;
- Falta de disposição;
- Baixa autoestima;
- Depressão;
- Redução da massa muscular e/ou massa óssea;
- Grande aumento de gordura corporal e ganho de peso.
Testosterona feminina e a libido
Atualmente, muito se ouve falar sobre a relação da testosterona e o desejo feminino.
Os hormônios androgênios, em parte, são importantes para a sexualidade da mulher.
Isso porque, eles influenciam o desejo, a energia e o bem-estar. Além disso, eles também agem em regiões do sistema nervoso e do córtex que são importantes para a percepção do prazer.
Níveis baixos de testosterona podem afetar a libido, além de dificultar a capacidade da mulher atingir o orgasmo. Embora dificilmente esta seja a única causa.

Porém, recorrer diretamente à reposição de testosterona assim que há queda na libido é uma atitude equivocada, já que o desejo sexual é multifatorial.
Diferentemente dos homens, para as mulheres o prazer é algo mais complexo e fatores mentais e emocionais têm o poder de influenciar a vontade de transar, a sensação de prazer e o orgasmo.
Mas então, quando repor a testosterona?

Temos estudos que mostraram o benefício do uso da testosterona em mulheres na pós menopausa com transtorno do desejo sexual hipoativo, em conjunto à abordagem de outros possíveis fatores causais para o mesmo.
Alguns trabalhos têm sido realizados em mulheres antes da menopausa, mas os resultados são controversos.
É importante ressaltar que, de acordo com a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), ainda não existe respaldo de dados que comprovem a segurança do uso da testosterona a longo prazo - a maioria dos estudos tem seguimento curto.
Além disso, ainda de acordo com a Federação, existem evidências de que o uso de testosterona pode causar danos em alguns sistemas do organismo, como mecanismos neurobiológicos.
O uso de testosterona e outros derivados androgênicos com fim estético (ganho de massa muscular) ou esportivo não é recomendado por nenhuma sociedade médica e é considerado doping pelas agências reguladoras de esporte. Algumas progesteronas sintéticas com ação mais androgênica, como a gestrinona, também são incluídas neste grupo.
Por isso, é fundamental avaliar cada caso isoladamente para avaliar se a paciente pode se submeter à reposição de testosterona.
Normalmente, para que a reposição seja bem indicada, precisaremos de uma indicação clara para o uso e que os sintomas interfiram com a qualidade de vida da paciente. Além disso, essa mulher deve ser de baixo risco para complicações.
Então, o tratamento poderá ocorrer com o uso de testosterona injetável, em comprimidos ou gel, a depender de cada indicação.
Ressaltamos que a reposição não deve ser feita sem acompanhamento médico, pois pode trazer sérias consequências para a saúde da mulher.
No contexto da menopausa, não faz sentido repor testosterona sem repor o estradiol em conjunto.
Dito isso, aproveito para avisar que não existe formulação de testosterona padronizada para o gênero feminino, de modo que se usa, quando necessário, adaptações de doses padronizadas para homens ou medicamentos manipulados.
Quais os riscos na reposição da testosterona para a mulher?

Ainda existem muitas dúvidas e controvérsias sobre o assunto, mas muitos estudos indicam que o uso da testosterona de forma desnecessária ou em um prazo superior a 6 meses oferece uma série de riscos:
- Piora na acne;
- Hirsutismo (aparecimento de pelos em regiões incomuns do corpo);
- Aumento do clitóris;
- Engrossamento da voz;
- Riscos cardiovasculares;
- Eventos tromboembólicos;
- Hepatopatias (doenças crônicas do fígado);
- Aumento no risco de câncer de mama e endométrio.
Sobre isso é importante ressaltar que alguns desses efeitos adversos não se revertem com a suspensão do uso, como os efeitos sobre o clitóris e sobre a voz.
O uso em ciclos não parece ser mais seguro que o uso contínuo.
Devemos ressaltar que existem muitas práticas diárias ou terapias alternativas ao uso da testosterona que podem favorecer o bem-estar femininos, por exemplo:
- Prática de atividade física;
- Alimentação adequada;
- Alteração do método contraceptivo;
- Acompanhamento psicológico;
- Uso de laser vaginal;
- Exercícios de fortalecimento pélvico.
Já que estamos falando de um tratamento que pode gerar efeitos colaterais, discutir os riscos e benefícios com a sua Ginecologista é essencial!
Marque uma consulta sempre que surgirem dúvidas!
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