Tenho uma ferida na vulva que não cicatriza: e agora?

ago. 22, 2022
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Uma ferida genital que não cicatriza causa muito desconforto e costuma ser associada a um sinal de alguma infecção sexualmente transmissível (IST) que necessita de tratamento.


Então, caso a paciente tenha feridas na região genital que não desaparecem ao longo do tempo e/ou possuem outros sintomas associados, por exemplo, dor, coceira, corrimento ou sangramento, é fundamental consultar a ginecologista.


Diversas são as doenças que podem causar este problema e abordaremos as principais: cancro mole, linfogranuloma e donovanose.


Há causas não sexualmente de feridas vulvares, como aquelas relacionadas a doenças auto imunes ou doença inflamatória intestinal, mas abordaremos elas em outro post.


Infecções que podem causar uma ferida na vulva que não cicatriza 


Cancro Mole


Também chamado de cancro venéreo, úlcera mole venérea e cancro venéreo simples, o cancro mole é causado pela bactéria Haemophilus ducrey.


Essa bactéria pode ser adquirida por meio do contato sexual sem preservativo e é uma causa comum de lesões genitais na população de grande parte dos países em desenvolvimento, sendo mais rara em países desenvolvidos.


Sintomas


O cancro mole costuma causar sintomas entre 3 a 7 dias depois da infecção.


Normalmente, causa pequenas bolhas dolorosas na região genital ou ao redor do ânus. Então, elas podem se romper e formar úlceras superficiais que, muitas vezes, se aprofundam e danificam outros tecidos.


Além disso, a paciente pode ter uma série de outros sintomas:


  • Gânglios na virilha;
  • Dor ou queimação ao urinar;
  • Presença de sangue na urina;
  • Corrimento com mal cheiro pela uretra (em ambos os sexos);
  • Dor durante relações sexuais;
  • Febre;
  • Fraqueza e cansaço.


Diagnóstico e tratamento


Para fazer o diagnóstico, observamos as lesões típicas da doença em consultório e buscamos compreender o histórico sexual da paciente.


Além disso, poderemos coletar uma amostra de pus ou líquido das lesões para fazer um teste de cultura.


Todavia, é difícil cultivar e identificar essa bactéria, então, poderemos testar outras possíveis causas e fazer o diagnóstico por exclusão.


O tratamento é feito com antibióticos e medicamentos para controlar a dor. Além disso, caso seja necessário, poderemos drenar as feridas para proporcionar alívio à paciente.


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Linfogranuloma


O linfogranuloma venéreo, popularmente conhecida como “mula”, é uma infecção causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, que atinge os órgãos genitais e os gânglios da virilha.


Sua transmissão ocorre pelo sexo desprotegido com uma pessoa infectada.


Sintomas


Esta infecção pode causar feridas na vagina, colo do útero, ânus e boca que, muitas vezes, desaparecem sem tratamento, sendo este o primeiro estágio da doença.


Então, o segundo estágio ocorre dentro de cerca de seis semanas após a ferida inicial, quando surge um inchaço doloroso (caroço ou íngua) na virilha que, se não for tratado, pode romper e liberar pus. 


Além disso, a paciente pode ter sintomas por todo o corpo, por exemplo, dores nas articulações, febre e mal-estar.


Fica um sinal de alerta que, se não tratada adequadamente, esta infecção pode agravar-se e caminhar para o seu terceiro estágio, causando a elefantíase, ou seja, o acúmulo de linfa na região genital.


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Como é o diagnóstico e tratamento?


Além da observação das lesões em consultório, podemos coletar uma amostra do material da ferida ou solicitar um exame de sangue para paciente.


Então, o tratamento ocorrerá com antibióticos e medicamentos para controlar a dor, que podem ser administrados por via oral ou pomadas locais.


Ressaltamos a necessidade de tratar também todas as parcerias sexuais, de modo a evitar a continuidade da doença.


Donovanose


Esta é uma infecção crônica progressiva causada pela bactéria Klebsiella granulomatis.


Causa feridas que destroem a pele infectada e acometem, principalmente, a pele e mucosas das regiões da genitália, da virilha e do ânus.


Sua transmissão ocorre pelo sexo desprotegido com uma pessoa infectada. Dessa forma, o uso do preservativo é a melhor forma de prevenção.


Quais são os sintomas? 


Quando a paciente é infectada, terá uma lesão que se transforma em ferida ou caroço vermelho que não dói e não gera íngua. 


No entanto, esta ferida sangra fácil e pode comprometer a pele ao redor, o que acaba facilitando a infecção por outras bactérias.


Diagnóstico e tratamento


Para o diagnóstico, observamos as lesões em consultório, buscamos compreender o histórico da paciente e podemos fazer uma coleta de material da ferida para análise.


No entanto, a Klebsiella granulomatis é difícil de cultivar e, assim, será importante avaliar outras possíveis causas das feridas para fazer um diagnóstico por exclusão.


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O tratamento desta doença também se dá por antibióticos, geralmente, por via oral. Pode ser necessário também um tratamento mais longo para curar as feridas existentes.


Além disso, é fundamental evitar contato sexual até que os sintomas desapareçam e o tratamento seja finalizado.


Cuidados Gerais


Uma vez diagnosticada uma infecção sexualmente transmissível (IST) devemos avaliar a possibilidade de outras IST associadas.

HIV, hepatite B, hepatite C e HTLV podem ser rastreados por exames de sangue. São vírus que podem ficar silenciosos por bastante tempo.


Clamídia, gonorréia, micoplasma e ureaplasma podem ser rastreados por coletas de conteúdo cervical ou amostra de urina. São bactérias que podem também não trazer sintomas, mas causam inflamação crônica no trato reprodutivo, podendo levar a quadros de infertilidade se não tratadas.


O uso de preservativo vaginal ou peniano, interno ou externo, respectivamente, é a única forma de prevenção de transmissão destas infecções, e deve ser indicado em todos os tipos de prática sexual.


Para a população de risco para aquisição de IST, como por exemplo profissionais do sexo ou pessoas com múltiplas parcerias sexuais, o uso de PreEP, ou medicação pré exposição é recomendado para prevenção da transmissão do HIV.


Durante o tratamento de uma IST recomenda-se a abstinência sexual e, dependendo do tipo de IST, devemos comunicar todas as parcerias sexuais dos últimos 3 a 12 meses, para que sejam avaliados e tratados, interrompendo a cadeia de transmissão.


Ferida na vulva e a gestação: quais os riscos das ISTs neste período?


Contrair uma IST durante a gestação (ou engravidar enquanto está com uma infecção) traz uma série de riscos para a mãe e o neném.


Isso porque, a presença de uma infecção pode causar complicações, como abortamento ou natimortalidade, parto prematuro, doenças congênitas ou morte do recém-nascido.


Então, devemos nos atentar para a transmissão vertical, ou seja, a contaminação do feto durante a gestação, parto ou amamentação, e para os riscos que as doenças podem trazer para o parto.


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Dessa maneira, é fundamental testar a gestante e suas parcerias sexuais durante o pré-natal e no momento do parto para adotar os devidos tratamentos, caso seja necessário.


Além disso, a prevenção não só na gestação, mas em todos os momentos da vida sexual, é fundamental para evitar maiores complicações. Para tal, o uso de preservativo externo ou interno é a forma mais eficaz!

 

Ressaltamos que, ao observar uma ferida na vulva que não cicatriza, é fundamental interromper as relações sexuais e procurar uma Ginecologista imediatamente.


Somente assim, poderemos identificar o problema e tratá-lo, de modo a evitar complicações na saúde da mulher e de sua parceria, bem como devolver sua qualidade de vida e bem-estar.


Dra Juliana Ribeiro - Ginecologista em São Paulo

Dra. Juliana Ribeiro

Ginecologia, Obstetrícia e Saúde Feminina


Ginecologista e Obstetra de formação, eu acredito que informação é a maior forma de poder que podemos ter. Como médica, tenho a missão de trazer a vocês o maior número de informações possíveis, a fim de poder ajudá-las a participar ativamente do cuidado da sua saúde.


Acredito que a prevenção é a melhor escolha sempre e que o engajamento da paciente no tratamento é a melhor forma de ele dar certo.

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