Síndrome Antifosfolípide (SAF) e Saúde da Mulher

24 de janeiro de 2022
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A Síndrome Antifosfolípide (SAF) é uma doença na qual o sistema imunológico ataca proteínas normais do sangue.


Como consequência, pode causar tromboses recorrentes nas veias ou artérias, abortos de repetição e também acidente vascular cerebral (AVC) em pacientes jovens.


É uma doença autoimune que pode acometer pacientes de todas as idades, sendo mais comum entre os 20 e 50 anos.


Além disso, pode ocorrer de forma isolada ou associada a outras doenças, como o lúpus, outra doença reumatológica que pode causar vários problemas.


No geral, o sistema imune produz anticorpos anti fosfolípides, que atacam proteínas relacionadas aos lipídios que podem interferir nas células sanguíneas, aumentando a coagulação dentro dos vasos.


Entre os anticorpos temos: anticardiolipina, anticoagulante lúpico (LAC) e anti-beta-2-glicoproteína (aβ2GP1).


A gravidade da doença depende do tipo e complexidade dos anticorpos. Por exemplo, um triplo positivo para anticorpos antifosfolipídios e altos títulos de anticorpos costumam indicar uma doença mais grave.


Principais sintomas da Síndrome Antifosfolípide


A SAF tem dois principais sintomas: as tromboses e os problemas da gestação, principalmente os abortos de repetição.


Tromboses


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São coágulos que se formam nas veias ou artérias, impedindo que o fluxo de sangue continue. Além disso, eles podem se desprender do local onde foram formados, afetando diversos órgãos do corpo.


Por exemplo, a trombose venosa profunda, geralmente, ocorre nos membros inferiores e pode viajar pela corrente sanguínea e causar uma embolia pulmonar.


Já uma trombose nas artérias pode se desprender e chegar ao cérebro, causando um AVC.

Problemas na gestação


Durante a gestação, esta doença é responsável pela ocorrência de abortos recorrentes, que pode ocorrer em qualquer momento da gravidez, sendo mais comuns entre os primeiros 3 a 6 meses.


Além disso, esta doença pode afetar as células do útero e da placenta, reduzindo a velocidade de crescimento do bebê e aumentando as chances de abortamentos ou partos prematuros por insuficiência no funcionamento da placenta.


Esta doença também está associada ao aumento no risco da mulher desenvolver pré eclâmpsia, a pressão alta associada a gestação, ampliando ainda mais os riscos para a gravidez e para a mãe.


Outros sintomas da SAF


Esta doença pode ainda causar problemas em diversos outros sistemas do nosso corpo.


Por exemplo, pode interferir nas válvulas do coração, que ficam mais espessas e trabalham com dificuldade.


Nos rins, a SAF pode fazer com que os vasos sanguíneos fiquem mais estreitos, elevando a pressão.


Pode afetar também a pele, causando manchas esparsas com aspecto marmóreo que aumentam no frio (livedo). Geralmente, isso ocorre nos membros inferiores e antebraços.


Outro sintoma da SAF é a plaquetopenia, ou seja, a quantidade de plaquetas no sangue fica abaixo do normal. Visto que estas são as células responsáveis pela coagulação, podem ocorrer equimoses (roxos) ou sangramentos. 


A SAF e a contracepção


Considerando que um dos principais riscos da Síndrome Antifosfolípide é a formação de trombose, os contraceptivos orais combinados (estrogênio e progesterona) são estritamente proibidos para estas pacientes.


Como exemplo dos contraceptivos combinados, podemos citar: algumas pílulas orais, anel vaginal, adesivo e injeções intramusculares de uso mensal.


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Isso porque, estudos apontam que estes contraceptivos causam resistência às proteínas C-reativas, que são anticoagulantes naturais do organismo.


Assim, o sistema circulatório fica mais propício a criar coágulos e a chance de trombose é elevada, ou seja, o uso destes métodos pode potencializar os efeitos da SAF.


Então, nesses casos, anticoncepcionais que contém somente a progesterona em sua composição, bem como os métodos de barreira, são formas seguras de prevenção da gravidez.


Como exemplo de métodos contraceptivos de barreira podemos citar o diafragma e camisinha masculina e feminina. Os DIU de cobre ou cobre+prata  ou de progesterona são métodos mais eficazes, de maior duração e que também podem ser usados.


Alguns exemplos de contracepção que usam somente a progesterona são os implantes hormonais subdérmicos, DIU Mirena ou Kyleena, injeções intramusculares de uso trimestral e algumas pílulas orais, como aquelas de desogestrel ou drospirenona isolados.  


Temos artigos que explicam sobre os métodos contraceptivos hormonais e os não hormonais.


Interferências da SAF na gestação


No geral, a Síndrome Antifosfolípide não é uma doença que causa infertilidade, no sentido de impossibilitar a formação dos óvulos e a concepção.


No entanto, como vimos, ela tem como um dos principais sintomas os abortos de repetição, o que acaba causando dificuldades no desfecho positivo das gestações, bem como desgaste emocional para os genitores.


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De acordo com a Febrasgo, as principais complicações obstétricas de pacientes com SAF são:


  • Abortos recorrentes inexplicáveis (idade gestacional menor que 10 semanas);
  • Morte de um feto morfologicamente normal no segundo ou terceiro trimestre;
  • Nascimento prematuro (idade gestacional menor que 34 semanas) - devido pré-eclâmpsia, eclâmpsia, síndrome HELLP ou crescimento intrauterino restrito.


Além disso, a SAF na gestação também provoca placentação defeituosa devido à inflamação, ativação do sistema complemento, hipercoagulabilidade e anormalidades na remodelação vascular dos vasos uterinos.


Dessa maneira, apesar da trombose e manifestações obstétricas serem sintomas diferentes da SAF, a maioria das mulheres apresentam ambas as complicações.


Vale ressaltar que, em mulheres grávidas com SAF, a proporção de perda fetal é de 15-35% e as complicações obstétricas tardias ocorrem em cerca de 5% dos casos.


Como melhorar o desfecho das gestações? 


Diante da gravidade da SAF para gestação, é essencial adotar medidas para prevenir as complicações obstétricas.


No entanto, não temos ainda uma definição de qual a abordagem mais benéfica para tal.


No geral, podemos considerar o uso de aspirina em baixa dosagem em portadoras de anticorpos anti fosfolípides assintomáticas que apresentam um perfil de alto risco com intuito de evitar os resultados adversos na gestação.


Além disso, o tratamento convencional para prevenção de complicações obstétricas consiste na associação de aspirina em baixa dosagem a heparina de baixo peso molecular em doses profiláticas.


Todavia, ainda há o risco de ocorrer uma falha no tratamento, que pode afetar mais de 20% das pacientes com SAF obstétrica.


Alguns fatores de risco ligados à falha no tratamento são:


  • Presença de outras doenças autoimunes;
  • História de trombose e complicações na gravidez;
  • Tripla positividade para AFL.


Nestes casos, devemos pensar nas possibilidades existentes de tratamentos da SAF obstétrica refratária e, atualmente, podemos utilizar medicamentos como hidroxicloroquina, glicocorticóides, imunoglobulina e plasmaférese, a depender de cada caso.


O acompanhamento conjunto entre Obstetra e Hematologista ou Reumatologista costuma trazer resultados mais satisfatórios.


A importância da consulta pré concepcional


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Como vimos, pacientes gestantes que apresentam SAF tem uma gestação considerada de alto risco.


Por isso, será essencial fazer um acompanhamento desde antes da gestação, especialmente se já houver histórico obstétrico desfavorável prévio.


O intuito é avaliar todos os fatores de risco e otimizar o tratamento, melhorando a placentação desde o início da próxima gravidez. 


Mesmo com todos esses cuidados, o pré-natal será de alto risco com consultas mais frequentes e, provavelmente, realização de mais exames.


Dessa forma, podemos atuar para possibilitar um desenvolvimento saudável do bebê e reduzir os riscos para a mulher. Assim como intervir precocemente, se houver necessidade.


Temos um artigo que explica mais sobre o pré-natal de alto risco e você poderá ler clicando aqui.  


Apesar das dificuldades desta situação, contar com uma equipe preparada e de confiança pode fazer toda diferença no seu caso.


Então, busque informações e não deixe de se cuidar!


Dra Juliana Ribeiro - Ginecologista em São Paulo

Dra. Juliana Ribeiro

Ginecologia, Obstetrícia e Saúde Feminina


Ginecologista e Obstetra de formação, eu acredito que informação é a maior forma de poder que podemos ter. Como médica, tenho a missão de trazer a vocês o maior número de informações possíveis, a fim de poder ajudá-las a participar ativamente do cuidado da sua saúde.


Acredito que a prevenção é a melhor escolha sempre e que o engajamento da paciente no tratamento é a melhor forma de ele dar certo.

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