Puerpério: o que é e quais os cuidados necessários

admin • 28 de agosto de 2020
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O puerpério ou pós-parto ou resguardo é o período após o nascimento dos bebês. Neste período o organismo da mulher, que acabou de passar por uma série de modificações, vai retornar às condições existentes antes da gravidez – a natomicamente, pelo menos, dado que muito provavelmente do ponto de vista psicológico e existencial a maioria das mulheres nunca mais será a mesma.

Ao longo do puerpério a paciente passa não só por transformações em seu corpo, mas também por uma série de questões psicológicas importantes.

É neste período que ocorre a adaptação à maternidade, o início da lactação, uma série de alterações hormonais, a recuperação do útero, assim como a avalanche psicológica dos desafios da mãe à nova realidade familiar.

Qual a duração e as fases do Puerpério?

Podemos dizer que o puerpério tem seu início após a saída da placenta do organismo e tem seu término imprevisto, já que enquanto a mulher estiver amamentando ela sofrerá modificações em seu organismo.

Para um melhor entendimento, podemos dividir este período em fases que são contínuas e cuja duração pode variar, a depender da fonte consultada.

Puerpério Imediato

Esta fase vai do nascimento às primeiras horas pós parto (2h ou 6-12h pós parto). É a fase mais crítica do ponto de vista de risco materno; entretanto a mulher costuma estar sob vigilância hospitalar, então as medidas terapêuticas podem ser prontamente instaladas.

O risco de sangramento é a principal preocupação, e se não houver pronto tratamento pode haver risco de vida, sendo o sangramento pós parto abundante uma das principais causas de morte materna no mundo.

É neste período que temos a Golden Hour , a primeira hora de vida do bebê, durante a qual será muito importante estabelecer o contato pele a pele com a mãe e a primeira amamentação.

Puerpério Mediato ou Sub-agudo

Fase sequencial do puerpério, que vai do fim da fase anterior até cerca de 10 dias pós parto (ou 2 a 6 semanas pós parto). Seguem grandes mudanças físicas, hormonais e psicológicas, mas de modo mais lento que na etapa que a antecede.

  •  1º ao 10º dia:

Fase na qual acontecem alterações maiores no corpo da mulher, pois tanto o útero quanto os demais órgãos genitais tem velocidade acelerada de retorno às formas pré gestacionais. Após 7 dias do parto espera-se que o útero esteja a meio caminho entre o osso púbico e o umbigo, e com duas semanas que não seja mais palpável através do abdome.

A loquiação acontece e muda de aspecto ao longo desta etapa, devendo adquirir aspecto fluido e amarelado por volta do 10º dia pós nascimento.

Inchaço de membros pode aparecer ou aumentar nos primeiros dias, com tendência de melhora após a primeira semana.

Queixas frequentes nesta fase:

  • Dor ou cansaço,
  • Constipação intestinal,
  • Dificuldades com posicionamento e pega corretos na amamentação,
  • Preocupações com o estado do bebê recém nascido,
  • Sintomas ocasionados por hemorróidas e gases.

Apesar de incômodas, tais achados são quase 100% resolvidas na maioria dos casos com orientação, ajuda e uso de medicamentos.

Após a saída da maternidade podem aparecer várias dúvidas, bem como agravamento de dificuldades com amamentação, sendo fundamental ter suporte e contato com sua Obstetra.

Do ponto de vista psicológico, é nesta etapa que pode acontecer o Blues Puerperal.

  • 10º ao 42º dia:

Período marcado pela continuação da recuperação genital. Até terminadas as 6 semanas do resguardo espera-se que os órgãos genitais femininos tenham retomado sua conformação de antes da gravidez.

O tamanho uterino costuma ser um pouco maior em mulheres que já tiveram filhos em comparação àquelas que nunca tiveram bebês.

Além disso, é neste período que a mulher passa a viver com mais intensidade a amamentação, adaptações à nova rotina do lar e do casamento. Também fazem parte do pacote maior percepção de isolamento, sensação de sono não reparador e emoções ambivalentes.

Neste período será preciso ir às Consultas de Acompanhamento com Obstetra – a primeira em torno de 10-14 dias pós parto e a segunda ao redor de 6 a 8 semanas após, em casos que não houve nenhuma complicação. Mais visitas podem ser necessárias em casos complicados.

Problemas como infecções, mastites, hemorragias tardias, depressão puerperal e transtorno de estresse pós traumático acontecem por esta fase, devendo ser pontos de atenção e cuidado.

Puerpério Remoto ou Tardio

O período do puerpério remoto vai para além do 10º dia até 6 semanas pós parto (ou além do 42º dia até 6 meses pós parto) e, por outras fontes, não teria uma duração precisa, pois dependeria da duração da amamentação e/ou retorno às menstruações – enquanto a mulher estiver amamentando pode haver alterações no seu organismo. 

Para as mulheres que amamentam de modo exclusivo e intensivo poderá ocorrer a ausência de menstruação por mais de 12 meses, mesmo após a introdução alimentar.

Já para aquelas que não amamentam a menstruação tende a retornar com 6 a 8 semanas. 

As alterações aqui costumam ser mais lentas e por vezes menos perceptíveis, mas continuam acontecendo.

Neste período mais estendido (após 6 semanas do parto) podemos esperar:

  • Pleno retorno ao funcionamento dos sistemas esquelético e musculares,
  • Melhora de alterações de pele que apareceram com a gestação,
  • Redução de sintomas como perda involuntária de urina ou flatos,
  • Retomada das atividades sexuais.

Entre 2 e 6 meses pós parto pode acontecer o eflúvio telógeno, ou seja, uma queda acentuada dos cabelos. Este fenômeno está associado à uma mudança no padrão de crescimento capilar e variação hormonal do período puerperal.

Costuma melhorar sem necessidade de intervenções entre 6 meses e 1 ano e meio. Desde que não haja formação de áreas isoladas de queda e que se perceba o nascimento de pequenos novos fios, não há porque se preocupar.

O que é a Loquiação? 

É importante entendermos a diferença entre a loquiação e a menstruação.

A loquiação é o sangramento decorrente da cicatrização do leito de inserção da placenta e diminuição do útero após a gravidez. Já a menstruação é consequência da eliminação do endométrio espessado quando não ocorre uma fecundação, após uma ovulação.

O processo da loquiação é muito mais longo que uma menstruação. Dura de cerca de 45 dias e possui fases nas quais a secreção muda de cor e aspecto conforme os diferentes estágios da cicatrização. Vamos entender melhor.

Fases da Loquiação:

Durante os primeiros 3 a 4 dias (lóquia rubra) após o parto a secreção é muito avermelhada e composta de sangue, fragmentos de membranas da placenta, células epiteliais e muco. Este período acompanha algumas contrações do útero, que acontecem para liberar os resíduos.

De 4 a 10 dias (lóquia fusca) após o parto a “ferida” da placenta vai se fechando e essa secreção passará a ter uma cor mais escura, característica de alterações de hemoglobina, redução do número de hemácias e aumento de leucócitos.

Após 10 a 15 dias (lóquia flava) a secreção assume um aspecto mais fluido e cor mais amarelada e o seu conteúdo passa a conter células brancas, tecido epitelial e células da membrana que reveste o útero, o endométrio.

A partir de então a lóquia vai clareando, ficando mais esbranquiçada (lóquia alba) e reduzindo a quantidade, até desaparecer em torno de 4 a 6 semanas após o parto.

É comum que as mulheres que amamentam eliminem maior quantidade de lóquios, porque a amamentação estimula o processo de recuo do útero. 

Cuidados:

Neste período da loquiação alguns cuidados serão essenciais. Seguem algumas recomendações:

  • Utilizar absorventes externos ou calcinhas absorventes (laváveis ou descartáveis). O uso de absorventes internos favorece a entrada de microrganismos indesejáveis no útero, aumentando o risco de infecções. Também devemos evitar o uso de copos coletores.
  • Evitar as relações sexuais. Neste período, o colo do útero estará aberto e as relações sexuais podem favorecer uma infecção.
  • Lavar a região genital externa com sabonete neutro ou apropriado para higiene íntima. A higienização é essencial para evitar a proliferação de bactérias causadoras de doenças e evitar o mau odor.

Qual a diferença do puerpério no caso de parto normal ou cesárea?

O resguardo terá algumas diferenças conforme o tipo de parto que foi realizado, principalmente na intensidade de dor e tendência de retorno às atividades.

No caso de um parto normal, em linhas gerais a mãe tenderá a se levantar e movimentar com mais facilidade, pois a dor será menor. Como não há cicatriz abdominal, atividades físicas podem ser retomadas em menor intervalo de tempo pós parto.

Quando ocorre um parto cirúrgico, o puerpério imediato e mediato tendem a ser mais doloridos e com uma recuperação mais lenta. A cesárea é uma cirurgia de média complexidade na qual sete camadas da parede abdominal são incisadas e suturadas, cada uma com um tempo específico de cicatrização, o que é fator de risco para dor.

Mulheres que permaneçam mais tempo deitadas estarão sob maior risco de trombose, portanto todas devem começar a andar o mais breve possível e pode-se recomendar o uso de meias elásticas ou medicamentos anticoagulantes a depender dos fatores de risco individuais.

A incisão da cesárea (os pontos) ou eventuais suturas de lacerações ou episiotomia devem ser igualmente cuidados para evitar que se abram ou se contaminem, gerando uma infecção. 

Os cuidados recomendados com pontos:

  • Limpar a região do corte com água e sabonete de uso habitual e sempre deixar o local seco após a lavagem;
  • Não utilizar nenhum creme sobre o corte nos primeiros dias;
  • Manter o repouso apropriado ao tipo de parto nas primeiras semanas;
  • Incisões de cesárea em mulheres com tendência à cicatrização hipertrófica ou queloidiana podem se beneficiar do uso de fitas ou géis de silicone, com início de uso após fechamento da cicatriz;
  • Caso haja pontos com fio que o corpo não absorve, os mesmos devem ser removidos em 10-21 dias pós parto, a depender do tipo de pontos utilizados;
  • Observar com atenção os pontos no período pós cirurgia – caso a pele ao redor do corte fique inchada, avermelhada, quente, elimine alguma secreção ou a dor aumente, será preciso procurar o médico.

Quais são os cuidados com as mamas no puerpério?

O período do puerpério marca também o início da amamentação. Apesar da amamentação ser essencial, nos primeiros dias poderá causar algumas dificuldades e questionamentos para as mulheres.

Para mais detalhes sobre a amamentação, clique aqui.

Os cuidados recomendados visam a redução da ocorrência de fissuras, além das técnicas de aleitamento materno propriamente ditas.

Algumas ações são indicadas:

  • Exposição das mamas ao sol pela manhã ou fim de tarde por dez a quinze minutos;
  • Utilização do algumas gotas de leite materno nos mamilos após as mamadas;
  • Evitar o uso de sabonetes nos mamilos durante o banho;
  • Evitar o uso de cremes, pomadas (exceto os de lanolina), alimentos ou misturas caseiras nos mamilos, principalmente se houver fissuras;
  • Manter suporte adequado às mamas, com uso de sutiãs de tamanho apropriado e com alças largas, na maior parte do tempo;
  • Evitar o uso contínuo de “absorventes” ou conchas de amamentação, especialmente as não ventiladas ou rígidas;
  • Massagear as mamas e ordenhar um pouco a região atrás da aréola antes de amamentar, especialmente se os seios estiverem muito cheios;
  • Massagear e ordenhar as mamas para alívio, quando os seios estiverem muito cheios e o bebê não for mamar ou não puder amamentar por qualquer motivo;
  • Manter-se bem alimentada e hidratada;
  • Iniciar o estímulo ao aleitamento materno, com massagem e ordenha (manual ou mecânica) preferencialmente em banco de leite, quando o bebê estiver internado e ainda não puder se alimentar sozinho.

Caso haja alguma contraindicação ao aleitamento materno, para evitar a descida do leite, deve-se fazer uso de medicamentos e enfaixamento ou uso de tops justos para comprimir a mama.

Como deve ser a alimentação da mãe pós parto?

Muitas mulheres têm dúvidas de como se alimentar após o parto, já que provavelmente estarão amamentando e possuem preocupações com a influência de sua alimentação na saúde do bebê.

É importante saber que nenhum alimento que a mãe coma, isoladamente, é associado com aumento de cólicas ou refluxos ou desconfortos ao recém nascido.

O que comer?

No geral, será importante a mãe ter uma alimentação balanceada e se hidratar muito bem (recomenda-se o consumo de 2 a 3 litros de água por dia) para garantir a boa produção de leite e recuperação do parto.

A alimentação deverá ser rica em nutrientes, proteínas, ferro, cálcio e vitaminas. Será ideal consumir muitas verduras, legumes, frutas e cereais. Além disso, é recomendado o consumo de fibras e água, de modo a favorecer o funcionamento do intestino.

O que não comer?

Alguns alimentos devem ser evitados, tanto no puerpério como em geral, pois são pobres do ponto de vista nutricional, favorecem o ganho excessivo de peso ou contém quantidades excessivas de sódio.

Dentre eles, podemos citar: balas, doces, açúcares em geral, refrigerantes, alimentos ultraprocessados (enlatados, ensacados e embutidos), farináceos e frituras e lanches em excesso. 

Mitos

Vários alimentos são popularmente citados pelos mais velhos como causadores de gases e cólicas aos recém nascidos, tais como feijões, repolhos, porcos ou alimentos condimentados, entretanto não há comprovação científica de tal associação. 

Veja que grãos, leguminosas, vegetais e carne branca são alimentos de grande potencial nutritivo e não devem ser removidos do cardápio da lactante por crendices.

Não há também nenhum alimento ou bebida que quando consumido aumente a produção de leite materno. Logo, não devem ser consumidos caldos de composição questionável ou cerveja preta com este fim. 

Álcool

Não se recomenda o uso de bebidas alcóolicas durante a amamentação, uma vez que esta substância entra rapidamente na circulação da mãe e poderá chegar ao bebê através do leite.

Assim como na gestação, não há nenhuma quantidade que seja considerada segura.

Dietas

Mesmo que nesta fase a mulher sinta necessidade de perder alguns quilos, fazer qualquer tipo de dieta restritiva deve estar fora de cogitação já que poderá acarretar desnutrição da mãe, redução da produção de leite materno e alteração do padrão de crescimento do bebê.

É importante frisar que a produção do leite por si só já demanda muita energia da mulher e costuma ser auxiliar na perda de peso materno, quando associada a dieta apropriada e atividade física após liberada

Casos especiais

Na suspeita que o bebê tenha alergia à proteína do leite de vaca ou alterações intrínsecas do metabolismo, leite e seus derivados ou outros nutrientes específicos devem ser removidos da dieta da mãe. Estes casos devem ser seguidos com atenção pelo Pediatra, Obstetra e também deve-se oferecer acompanhamento nutricional à mãe, para garantir o aporte apropriado de cálcio e demais elementos necessários à sua saúde.

Caso a paciente tenha muitas dúvidas em relação à alimentação, ou haja necessidade de múltiplas restrições alimentares, deverá contar com a ajuda de Nutricionistas ou Nutrólogos, que poderão acompanhar melhor tais particularidades alimentares.

Ufa…

O puerpério é um período fantástico e envolve inúmeras mudanças. 

Daremos continuidade a outras particularidades sobre esta fase da vida da mulher nos próximos posts!

Dra Juliana Ribeiro - Ginecologista em São Paulo

Dra. Juliana Ribeiro

Ginecologia, Obstetrícia e Saúde Feminina


Ginecologista e Obstetra de formação, eu acredito que informação é a maior forma de poder que podemos ter. Como médica, tenho a missão de trazer a vocês o maior número de informações possíveis, a fim de poder ajudá-las a participar ativamente do cuidado da sua saúde.


Acredito que a prevenção é a melhor escolha sempre e que o engajamento da paciente no tratamento é a melhor forma de ele dar certo.

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