Baby Blues, Depressão Pós-Parto e Suicídio

admin • 18 de setembro de 2019
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Aproveitando que estamos no mês de setembro, período marcado pela Campanha do Setembro Amarelo – mês da Prevenção ao Suicídio e Valorização da Vida , vale a pena lembrar de dois transtornos: Baby Blues e Depressão Pós-Parto , duas situações que podem acometer as mulheres no puerpério (período pós-parto) e podem prejudicar a sua qualidade de vida neste período já tão cheio de adaptações, bem como levar a implicações futuras tanto para a mãe como para o bebê.

O que faz com que associemos o Setembro Amarelo ao Baby Blues e à Depressão Pós-Parto é o fato de que esses quadros podem ter os mesmos sinais e sintomas associados a depressão, que é a maior causa de  tentativas de suicídio. Apesar do índice absoluto de suicídios associado a depressão pós parto não ser muito alto, ainda sim é uma situação preocupante, pois a depressão por si só triplica  as chances de um indivíduo atentar contra a própria vida.

Explicando os transtornos…

Muitas mulheres ao dar a luz experimentam uma mistura de sentimentos que nem sempre são bons. Isso acontece em razão da alteração abrupta de hormônios nessa fase, bem como pode estar associado a tendências genéticas ou à presença de situações psicossociais ou eventos de grande estresse no período perinatal.

É possível uma mãe estar sentindo felicidade e alegria pela chegada do bebê concomitantemente às reações angustiantes, carregadas de tristeza e melancolia, principalmente associados à grande carga de responsabilidade, cansaço físico e privação de sono. Junta-se a isso uma sensação de culpa por estar experimentando tais sentimentos “errados”, e em alguns casos, uma frustração diante de todos esses acontecimentos.

Esse misto de sentimentos controversos, sensação de cansaço, alterações no padrão de sono e apetite, na maioria das vezes, é normal. Costuma iniciar logo após o parto e costuma ser auto-limitado, ou seja, vai se resolvendo sozinho ao longo dos próximos dias. Em outros casos os sintomas se intensificam, podendo surgir novos sintomas e podem indicar o desenvolvimento de Baby Blues ou Depressão Pós-Parto .

O que diferencia o normal, do Baby Blues da Depressão Pós-Parto ,  é a quantidade de sintomas que a puérpera apresenta, bem como o período em que esses sintomas têm início e como acontece a evolução dos mesmos. Outro fator de ajuda nessa diferenciação é o quanto esses sintomas são percebidos como fonte de estresse ou inadequação social pela puérpera, interferindo na sua qualidade de vida. 

Vamos detalhar um pouco mais a seguir. 

  A Depressão Pós-Parto

A depressão pós parto nada mais é do que um quadro de depressão que se inicia após o nascimento do bebê, em geral após o primeiro mês de vida da criança e é duradouro. Em até 50% das vezes os sintomas podem já estar presentes durante a gravidez.

Os principais fatores de risco para este transtorno são:

  • Antecedente pessoal de depressão (pré gestacional ou durante a gestação ou após parto anterior);
  • Acontecimento de algum evento de grande estresse durante a gestação ou após o parto: ex.: falecimento de pessoa próxima, crise conjugal, grandes mudanças familiares ou profissionais,…;
  • Dificuldades financeiras pós parto;
  • Rede de suporte psicossocial pós parto insuficiente;
  • Presença de transtornos psiquiátricos associados, tais como: transtornos de ansiedade, alimentares, estresse pós traumático, abuso de substâncias, etc.

O diagnóstico é feito baseado na presença dos seguintes sintomas , por um período de duas ou mais semanas, consecutivamente. Estes sintomas devem estar presentes quase todos os dias a maior parte do dia:

  • Humor deprimido;
  • Falta de prazer ou interesse em fazer as atividades do dia a dia;
  • Significante perda de peso sem fazer dieta ou aumento de peso ou alteração expressiva do apetite;
  • Insônia ou hipersonia;
  • Agitação ou depressão psicomotora;
  • Fadiga ou sensação de não ter energia;
  • Sensação de não ter valor ou de culpa excessiva ou inapropriada;
  • Redução da capacidade de se concentrar ou tomar decisões;
  • Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio ou tentativas de suicídio (planejamento ou tentativas de fato).

Quanto maior o número de sintomas presentes, maior duração dos sintomas e maior impacto na qualidade de vida, maior a gravidade do quadro.

Em casos mais leves o quadro pode se reverter espontaneamente, sem nenhum tipo de intervenção, mas a chance de retorno dos sintomas e recorrência de episódios depressivos é bastante elevada.

Além da interferência na qualidade de vida e comprometimento com o autocuidado, o quadro de depressão pós parto está relacionado ao desenvolvimento de complicações a longo prazo , tais como:

  • Interferência com a amamentação e suas complicações para o bebê;
  • Redução da conexão materna com o recém nascido;
  • Conflitos conjugais;
  • Menor cuidado com a criança, incluindo cuidados relacionados ao sono e vacinação;
  • Aumento no risco de alterações no desenvolvimento psicomotor e de habilidades sociais da criança;
  • Suicídio;
  • Infanticídio.

O Baby Blues

Baby blues ou blues puerperal acaba funcionando como se fosse um quadro um pouco mais intenso que o normal, porém mais leve que a depressão.

Inclui a presença dos mesmos sintomas depressivos descritos para depressão pós parto, mas com intensidade mais leve

De modo geral o quadro se inicia durante a primeira semana após o parto, com intensificação durante os dias seguintes e resolução espontânea em até duas semanas do início dos sintomas.

Quadros que se perpetuam por um período de tempo mais prolongado podem estar progredindo para depressão pós parto.

Os tratamentos para os transtornos Baby Blues e Depressão Pós-Parto

Como já falamos, o Baby Blues é passageiro, dura até duas semanas, e não necessita de tratamento. 

Quanto mais acolhida essa mãe se sentir (seja um uma comida quentinha, uma ajuda com o bebê enquanto toma um banho relaxante ou faz uma massagem, ou até mesmo uma ajuda com a casa), além da presença de uma rede de apoio, formada pela família ou por outras mamães que estejam na mesma situação, mais rápido os sintomas tendem a regredir.

Quando os sintomas indicam Depressão Pós-Parto se faz necessário uma avaliação médica para proceder ao tratamento mais indicado de acordo com o caso, podendo, inclusive, ser preciso ser um tratamento medicamentoso.

Caso você esteja experimentando esses sintomas, é muito importante que refira os mesmos à sua Obstetra, para que seja providenciada a avaliação e suporte adequados.

Para quadros leves e moderados pode-se iniciar o tratamento com psicoterapia. Várias modalidades se incluem neste grupo, tais como terapia cognitivo comportamental, psicoterapia interpessoal, ativação comportamental, dentre outras. Para casos com pouca resposta pode-se acrescentar tratamento medicamentoso. Drogas como inibidores seletivos da recaptação de serotonina ou serotonina-norepinefrina estão na primeira linha de tratamento e são considerados compatíveis com a amamentação.

Terapias complementares que se provaram eficazes quando utilizadas em associação são: 

  • Prática de atividades físicas; 
  • Presença de uma rede de apoio composta por mulheres em situação semelhante;
  • Exercícios em grupo de educação parental, incluindo atividades de cuidado com a criança.

Ainda sem resultados de estudos controlados, mas que podem trazer algum benefício podemos citar terapias baseadas em mindfulness, tais como meditação e yoga.

Quadros graves de depressão pós parto se caracterizam por grande prejuízo na qualidade de vida e funcionamento social, bem como altos índices de pensamentos e comportamento suicida. O indivíduo apresenta alteração na capacidade de julgamento e decisão em relação a si próprio ou aos outros, com risco de auto ou hetero injúria. 

Tendo isso em vista, em vigência de um quadro depressivo grave deve sempre ser requerida avaliação por Psiquiatra e esse tipo de situação frequentemente requer hospitalização.

O uso de antidepressivos em associação com psicoterapia é a primeira linha de tratamento. Quadros ainda mais severos, com risco iminente de suicídio ou infanticídio são candidatos ao uso de eletroconvulsoterapia. Tratamentos adicionais podem ser prescritos, a depender dos achados clínicos.

A ajuda é muito importante

O período pós parto é, per se, uma época de grandes transformações. Nasce um bebê e junto com ele uma mulher se torna mãe. A carga emocional e física é muito intensa, e nem todas as mamães conseguem se ajustar a tudo isso logo de cara.

Auxílio com as atividades do dia a dia, cuidado com o bebê e,  por vezes, uma palavra de consolo e reforço positivo são fundamentais para que a puérpera atravesse esse período de modo mais suave. 

Papais devem lembrar que, apesar de parecer que eles não cabem nesse círculo mamãe-bebê-amamentação, eles são fundamentais e é importante achar uma forma de fazer parte. Dar banho, trocar fraldas, fazer o bebê dormir, preparar o almoço ou jantar ou arrumar a casa são algumas tarefas que vocês podem fazer, liberando a mamãe para tirar uma soneca, por exemplo. E, mamães, pode ser que os papais não façam as coisas exatamente como vocês, mas é importante também não tentar controlar tudo o tempo todo. Deem espaço para que eles descubram como ajudar.

Independente de estar tudo bem e de toda ajuda do universo, algumas mulheres ainda experimentarão sintomas de depressão. Isso não é um sinal de fraqueza ou incapacidade. É importante procurar ajuda, a fim de tentar resolver o problema e retornar ao seu pleno funcionamento.

Estima-se que 90% dos casos de suicídio poderiam ser evitados se houvesse ao menos uma conversa com orientação. Se você está experimentando sintomas depressivos ou conhece alguém que está, procure ou sugira ajuda. Para aqueles que não dispõem de atendimento fácil, existem outras opções.

A ONG CVV (Centro de Valorização da Vida), fundada em 1962 é uma das instituições que idealizou a Campanha do Setembro Amarelo – Prevenção ao Suicídio , e fornece apoio emocional a todos que precisam 24 horas por dia, 7 dias na semana, o ano todo.

Podem entrar em contato pelo telefone 188 ou através do site www.cvv.org.br .

Lembrem-se, o Baby Blues e Depressão Pós-Parto podem não ter como ser prevenidos, mas o suicídio tem! Todas as vidas têm valor. A sua vida tem valor!

Dra Juliana Ribeiro - Ginecologista em São Paulo

Dra. Juliana Ribeiro

Ginecologia, Obstetrícia e Saúde Feminina


Ginecologista e Obstetra de formação, eu acredito que informação é a maior forma de poder que podemos ter. Como médica, tenho a missão de trazer a vocês o maior número de informações possíveis, a fim de poder ajudá-las a participar ativamente do cuidado da sua saúde.


Acredito que a prevenção é a melhor escolha sempre e que o engajamento da paciente no tratamento é a melhor forma de ele dar certo.

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