Antes de falar dos tratamentos e procedimentos propriamente ditos, gostaria de fazer algumas reflexões:

Pensando no uso de medicações durante a gestação, temos uma estatística americana de que o risco de teratogenicidade, ou seja, o risco de um medicamento causar malformações fetais é indeterminado para cerca de 98% de todas as medicações aprovadas para uso em humanos e, dentre todas as medicações, apenas algumas dezenas são cientificamente comprovadas ser seguro o uso na gravidez. Dentre elas se situam: vitaminas, eletrólitos, suplementos minerais e reposição hormonal (ex. levotiroxina) em doses fisiológicas.

Isso se deve a um simples fato : nenhum comitê de ética, em sã consciência, vai aprovar realização de estudos em gestantes! E nenhuma gestante irá se voluntariar para ser “cobaia” num estudo com medicamento até então não testado.

Logo, a maioria dos estudos disponíveis são realizados em laboratórios (in vitro) ou em modelos animais (in vivo), e quando não é evidenciado a presença de risco, acaba-se extrapolando essas conclusões também para a espécie humana e sendo liberado ou não o uso durante a gravidez.

Com base nisso, os medicamentos foram categorizados da seguinte forma (classificação feita pelo FDA – Food and Drug Administration – órgão americano que regulariza medicamentos e adotada também pela Anvisa):

Logo, antes de realizar qualquer tipo de tratamento sempre temos que avaliar qual o risco em fazê-lo ou deixar de fazer e qual o benefício que esse tratamento vai trazer no contexto da gestação. Sempre que o risco de não tratar for prejudicial à boa evolução da gravidez ou o benefício de tratar forem importantes para melhorar o desfecho da gestação, o tratamento deve ser realizado. Sempre que o risco do tratamento for maior que o não tratamento, deixa-se para realizar o mesmo após o término da gravidez.

Sempre escolhemos as drogas mais seguras (categorias A ou B se possível), nas menores doses e regimes de tratamento possíveis. E, cada situação em diferentes pessoas, pode requerer diferentes abordagens.

E, se com medicamentos, temos este cenário, imagina só com cosméticos!! Temos ainda menos estudos. Os poucos que tem são baseados em séries de casos de pessoas que fizeram uso desses produtos sem saber que estavam grávidas ou estudos observacionais. Do ponto de vista científico, são os estudos com menor poder de representar toda uma população, então não podemos levar esses resultados ao pé da letra.

Doenças dermatológicas, tais como: psoríase, líquen, doenças bolhosas, dermatites, manifestações cutâneas de lupus, hanseníase, etc, devem ser seguidas por Dermatologista junto com Obstetra ao longo da gestação. O tratamento será direcionado para a doença de base, seguindo os princípios de segurança já citados.

Mulheres que fazem uso de algum tipo de medicação sabidamente incompatível com a gestação ou com potencial teratogênico conhecido, exemplo tratamento via oral para acne grave, devem estar usando contracepção eficaz durante todo o tratamento. Caso esteja em programação de engravidar, conversar com a dermatologista para providenciar a adaptação do tratamento.

Alterações dermatológicas que podem surgir com a gravidez, tais como dermatites, melasma, acne, alterações de pintas previamente existentes ou que surjam com a gravidez, pápulas urticariformes, etc, também têm tratamento específico e merecem avaliação conjunta.

Pensando ainda em risco teratogênico, a etapa mais crítica do desenvolvimento fetal é o período chamado de embriogênese – as primeiras oito semanas de gestação. Neste período grande parte das mulheres ainda nem descobriu que estava grávida, sendo comum o relato de ter feito uso de bebidas alcoólicas, feito uso de diferentes medicações, vacinas ou tratamentos estéticos.

Então fica a sugestão : se você está com atraso menstrual ou está em risco de estar grávida, procure a Ginecologista ou faça um teste de gravidez antes de se submeter a algum tipo de tratamento com risco teratogênico.

E, lembrete: Todas as mulheres em idade fértil que estão tendo relações sexuais desprotegidas, teoricamente estão em risco de estar grávidas!
Vamos falar agora dos tratamentos cosméticos mais utilizados no dia a dia, afinal auto estima é um componente importante do bem estar feminino!

Vale ressaltar que qualquer tipo de procedimento invasivo, ou seja, que envolva a perfuração da pele, deve ser evitado durante a gravidez, a não ser que seja extremamente necessário. Logo, procedimentos com fim puramente cosmético, devem ser substituídos por tratamentos não invasivos.

Confira alguns exemplos dos tratamentos mais procurados e saiba se eles são indicados ou não:

Depilação

Embora alguns estudos mostrem que o laser não oferece risco ao bebê, devido atuação apenas nas camadas mais superficiais da pele, as pesquisas existentes não são conclusivas. Outro ponto negativo é que durante a gestação, a mulher fica mais propensa ao surgimento de manchas na pele, e o uso do laser pode favorecer ao aparecimento delas. Neste caso, o melhor é se precaver e evitar depilação a laser durante a gravidez.

O mais recomendado é optar pela remoção mecânica dos pêlos (com cera ou lâmina, ou linha no caso da sobrancelha). Pode ser utilizada cera fria ou morna (cuidado com a temperatura, a fim de evitar queimaduras!), preferencialmente alguma marca que já tenha utilizado antes, a fim de evitar o surgimento de alergias.

Outra opção é usar uma cera mais natural, caseira, feita à base de mel e suco de limão, removendo bem os restos do produto após o término do procedimento, pois o suco de limão também favorece ao surgimento de manchas e queimaduras na pele exposta ao sol.

Fica também a recomendação de usar sempre lâminas novas, com cuidado para não cortar a pele.

Outra opção bastante razoável, caso você se sinta confortável, é deixar os pêlos onde estão. Eles ajudam a proteger a pele e não atrapalham o exame ginecológico e nem o parto.

Clareamento Dental

Para realizar clareamento dental são utilizadas substâncias químicas para que os dentes sofram a oxidação necessária para seu branqueamento; o laser para dar o efeito clareador; e ácido para remoção de manchas.

Mesmo não havendo estudos específicos sobre do quanto este procedimento possa prejudicar a gestação, recomenda-se não se submeter a ele durante a gravidez.

Para saber mais sobre clareamento dental e outros cuidados relativos à saúde oral na gestação, clique aqui (linkar para texto sobre saúde oral).

Tratamentos para emagrecimento

Durante a gestação, qualquer tipo de tratamento deve ser benéfico para os dois, bebê e mamãe, visando a manutenção da saúde e um bom resultado perinatal.
Quando se fala de tratamento para emagrecimento durante a gravidez, alguns pontos precisam ser levados em consideração.

Mulheres que engravidam com sobrepeso ou obesidade precisam de suporte para evitar ganho de peso excessivo na gravidez, pois esse estado pode apresentar riscos para a mamãe e pode ser prejudicial ao bebê, tais como: favorecimento ao surgimento de pré eclâmpsia, diabetes gestacional, alteração no ganho de peso do bebê, risco de prematuridade por conta de complicações na gestação, aumento do risco de parto por cesariana e infecção de ferida operatória, etc.

É recomendado suporte nutricional e prática de exercícios físicos supervisionados, a fim de evitar o ganho excessivo de peso durante a gestação, sem comprometer a saúde do bebê.

Nenhum medicamento prescrito para emagrecimento é considerado seguro durante a gravidez ou período de amamentação.

Limpeza de pele

Durante a gestação as mulheres tendem a ficar com a pele mais frágil e sensível, oscilando entre seca e oleosa, e mais propensas ao aparecimento de manchas, irritações e acne. Esses são alguns dos motivos pelos quais procuram fazer a limpeza de pele.

O procedimento de limpeza de pele durante a gravidez pode ser realizado por profissional habilitado, usando a menor quantidade de produtos possível. A remoção mecânica de cravos e espinhas também pode ser realizada, utilizando técnica asséptica, evitando lesão da pele subjacente e infecção secundária.

Para evitar qualquer tipo de problema, atente-se para o uso de produtos que não sejam contraindicados para gestantes e mantenha seu médico responsável pelo pré-natal sempre informado.

Drenagem Linfática

A drenagem linfática durante a gravidez ajuda a minimizar o inchaço indesejado, provocado pela gestação e ainda contribui para o funcionamento do sistema circulatório, eliminação de toxinas e escoamento de líquidos retidos. Contudo, requer um cuidado especial.

A massagem deve ser leve, lenta e evitar a área da barriga e usos de aparelhos. Alguns SPA/ clínicas de estética solicitam que você leve uma declaração da Obstetra liberando para a realização do procedimento.

Pode ser realizada uma a duas vezes por semana, podendo ser intercalada com uma massagem relaxante. Novamente fica o cuidado com uso de óleos ou cremes que podem ser utilizados para facilitar o deslizamento das mãos durante a massagem. Prefira substâncias apropriadas para o uso durante a gestação.

Peelings

O uso de peeling durante a gravidez não é recomendado porque eles utilizam produtos químicos com alta concentração no procedimento.

Os principais ácidos utilizados, retinoico e/ou salicílico, são agressivos e não devem ser usados em momento algum da gestação. Eles são facilmente absorvidos e podem, através da corrente sanguínea, chegar ao bebê. Apesar da evidência de risco não ser robusta, o mais seguro é não arriscar.

Tratamentos capilares

Assim como os outros grupos de substâncias químicas, também não temos estudos confirmatórios do risco ou da ausência de risco no que se refere ao uso dos diferentes compostos presentes em tinturas, tonalizantes, descolorantes ou substâncias que promovem alisamento capilar.

Sabemos com certeza da necessidade de evitar as tinturas com amônia e metais pesados e alisantes contendo formol. Há alguma evidência sobre ausência de risco de escovas progressivas contendo carbocisteína. Evitar o uso principalmente durante o primeiro trimestre (12-13 semanas) de gestação e evitar o uso na raiz do cabelo.

Shampoos, condicionadores, máscaras hidratantes, e outros produtos de uso diário, podem ser utilizados conforme o habitual. Shampoos específicos para tratamentos de dermatites devem ter supervisão dermatológica do uso.

Produtos de uso diário

Sabonetes em geral, sabonetes para região íntima podem ser utilizados conforme habitual. Sabonetes antibactericidas contendo triclosan e/ou triclocarban não são recomendados pois foram associados a algumas alterações fetais e seleção de bactérias resistentes.

Filtro solar pode e deve ser utilizado diariamente e reaplicado a cada 2 ou 3 horas. Idealmente usar filtros físicos, que são menos absorvidos pela pele, mas não há contraindicação ao uso dos filtros químicos. Atualmente há uma grande variedade de marcas com filtros físicos, ou ditos minerais, com boa cosmética, à disposição.

Perfumes, desodorantes, esmaltes, maquiagem e pasta de dente podem ser utilizados conforme uso habitual. Se possível utilizar versões não comedogênicas e com filtro solar dos produtos de uso facial.

Ao realizar procedimentos de manicure e pedicure procure utilizar seus próprios utensílios, tais como tesoura ou alicate de unhas, ou utilizar estabelecimentos que esterilizem os mesmos em autoclave, a fim de minimizar possibilidade de transmissão de doenças.

Hidratantes ou óleos corporais podem ser utilizados. Há algumas versões apropriadas para uso durante a gestação com possível atuação na redução da formação de estrias.

Cremes, séruns, óleos, hidratantes, bálsamos e afins, de uso diário, com finalidade anti-envelhecimento ou anti-acne podem ser compostos à base de uma infinidade de substâncias diferentes. Produtos como ácido hialurônico, vitamina C estão liberados. Alguns ácidos em concentrações baixas também podem ser utilizados. O ideal é checar os produtos com sua Obstetra e/ou Dermatologista antes de dar continuidade ao uso durante a gestação.

Resumindo…

Neste quesito o mais importante é agir com bom senso e cautela! Não precisa descuidar de si mesma; algumas pequenas coisas acabam tendo uma ação muito importante na nossa auto estima e feminilidade.

Mas lembre-se : a gestação dura no máximo 9 meses e qualquer coisa que acontecer com você neste período pode repercutir na saúde do seu filho em maior ou menor grau. Os tratamentos que puderem ser postergados, prefira realizar após o parto ou ao término do período de amamentação.

Converse com sua médica antes de utilizar qualquer medicamento ou realizar qualquer tratamento.