Trombose e anticoncepcional: devo me preocupar?

4 de maio de 2023
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Apesar de sua ampla utilização, muitas mulheres têm dúvidas sobre a relação entre trombose e anticoncepcional.

Os anticoncepcionais hormonais contêm hormônios sintéticos que bloqueiam a ovulação e, assim, impedem a gravidez.


Atualmente, existem muitas informações de que certos tipos de anticoncepcionais aumentam o risco de trombose, uma condição em que coágulos sanguíneos se formam nas veias, impedindo a passagem de sangue naquele local, podendo trazer várias consequências.


A trombose venosa pode se tornar um problema grave, já que o coágulo corre o risco de se desprender e se alojar em outras partes do organismo, como os pulmões, causando a embolia pulmonar.


No entanto, esta é uma relação que ainda merece discussão e falaremos sobre o assunto neste texto!


Como funciona o anticoncepcional?


Os anticoncepcionais hormonais combinados são métodos contraceptivos produzidos com uma mistura de hormônios sintéticos ou bioidênticos, derivados do estrogênio e da progesterona.


Dessa forma, o contraceptivo emite uma mensagem enganosa ao cérebro, que faz com que o ovário fique inativo e o óvulo não seja liberado.


Ademais, os anticoncepcionais combinados também deixam o muco cervical mais denso, dificultando a passagem dos espermatozoides e evitando a fertilização.


Além da prevenção da gestação indesejada, os anticoncepcionais podem trazer outros benefícios para a paciente, por exemplo, a redução das cólicas menstruais e dos efeitos negativos da TPM.


Podem também regular o ciclo menstrual e melhorar os quadros de acne e hirsutismo, a presença de pelos em locais incomuns.


Estudos indicam que a pílula anticoncepcional combinada pode reduzir as chances de câncer de ovário ou endométrio em algumas mulheres.



Porém, não se recomenda o seu uso para aquelas que já tiveram câncer de mama.


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Apesar de apresentarem pontos positivos, estes medicamentos podem trazer riscos para determinados grupos de mulheres. 


Qual a relação entre anticoncepcional e trombose?


Os anticoncepcionais hormonais combinados, sejam eles orais, injetáveis ou adesivos,  são eficazes na prevenção da gravidez.


No entanto, a interferência dos hormônios nos mecanismos de coagulação do sangue pode aumentar o risco de trombose.


Para um evento trombótico acontecer, precisa haver a associação de três fatores, a tríade de Virchow: lesão na parede dos vasos sanguíneos (lesão endotelial), lentificação no fluxo de sangue (estase sanguínea) e aumento na tendência à coagulação do sangue (hipercoagulabilidade).



O estrogênio sintético presente na maior parte dos contraceptivos hormonais combinados, etinilestradiol, atua neste último fator - a hipercoagulabilidade. 


Este hormônio induz o aumento da produção de proteínas que estimulam a coagulação e reduz as que inibem o sangue de coagular, resultando num estado de maior tendência à formação do trombo. 


Tal efeito é maior quanto maior for a dosagem de etinilestradiol e principalmente nos primeiros meses após o início do uso.


A progesterona natural, por sua vez, dilata as veias, favorecendo o fluxo sanguíneo. Mas dependendo do tipo de progesterona sintética associada ao etinilestradiol, o risco de trombose de um contraceptivo combinado pode ser maior ou menor.



De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), os anticoncepcionais hormonais combinados, que incluem o estrogênio sintético e a progesterona, aumentam o risco de trombose venosa em mulheres em até 4 a 6 vezes.


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No entanto, a Febrasgo enfatiza a importância de desmistificar a relação direta que muitas vezes se faz entre o uso do anticoncepcional e a ocorrência de trombose. 


Devemos sempre lembrar que esta é uma complicação possível, mas não comum.


Isso porque a chance de uma trombose acontecer numa mulher em idade de uso de contraceptivos é muito baixa. Vamos aos números?


Mulheres com menos de 30 anos que não usam contraceptivos têm um risco de ter trombose de 1 a 2 eventos para cada 10.000 mulheres. Ou seja, até 2 mulheres jovens a cada 10 mil vão ter um evento trombótico.


Ao usar contraceptivos combinados de menor risco, a chance passa a ser de 2 a 4 eventos para cada 10.000 mulheres, ou seja, além dos 2 casos que já iam acontecer, teremos até mais 2 novos casos. 


Caso usem contraceptivos combinados de risco maior, a chance passa a ser de 4 a 8 eventos para cada 10.000 mulheres, ou seja, um acréscimo de até 6 novos casos.


Se eu te dissesse que você tem uma probabilidade de ganhar na Mega Sena de 4 a 8 para 10.000 jogos, você acharia que isso é muito ou pouco provável de acontecer?


Além disso, não devemos esquecer que a gravidez, por si só, e o período do pós parto aumentam muito mais o risco de trombose que o uso dos contraceptivos hormonais. 


Isso acontece pois nestas circunstâncias, para favorecer a continuidade da gravidez e prevenir a hemorragia após o parto, os três fatores que estimulam a formação de trombos estão presentes.


Na ausência de outros fatores de risco, pelo simples fato de engravidar, uma mulher com menos de 30 anos tem 5 a 10 vezes mais chances de ter uma trombose na gestação (o que daria um risco aproximado de 5 a 10 eventos para cada 10.000 mulheres) e de até 20 vezes mais no período pós parto (20 a 40 eventos para cada 10.000 mulheres).


Então, na ausência de contraindicações específicas, não faz sentido deixar de usar um contraceptivo hormonal por medo de trombose. 


Quais são os fatores de risco para trombose e anticoncepcional?


Embora as organizações médicas, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS), afirmem que os benefícios superam os riscos do uso de métodos anticoncepcionais hormonais combinados, algumas mulheres estão dentro do grupo de maior risco.


Assim, se a paciente estiver dentro de um dos perfis abaixo, deve evitar o uso deste tipo de anticoncepcional:



  • Tabagismo (especialmente acima dos 35 anos);
  • Idade maior que 40 anos;
  • Trombofilias diagnosticadas;
  • Obesidade;
  • Períodos prolongados de imobilidade;
  • Diabetes e hipertensão mal controlados.


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Por isso, é fundamental consultar a ginecologista para escolher o método contraceptivo mais adequado e seguro para cada caso.


Quando devo suspender o uso da pílula anticoncepcional?


Antes de optar por utilizar o anticoncepcional hormonal, é indicado conversar com a ginecologista e estar ciente dos possíveis efeitos colaterais e riscos associados.


Além disso, se ao longo do uso do medicamento a paciente sentir alguns dos sintomas listados abaixo, recomendamos suspender a ingestão imediatamente e procurar a ginecologista para avaliar o caso.


Então, os seguintes sinais não podem ser ignorados:



  • Tremores das mãos;
  • Dores de cabeça muito fortes, com sensibilidade à luz e distúrbios visuais;
  • Alterações bruscas de humor;
  • Inchaço exagerado, principalmente dos membros inferiores;
  • Problema para respirar;
  • Vermelhidão, sensação de calor e dores nas pernas.


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E a pílula do dia seguinte, oferece risco de trombose?


A pílula do dia seguinte contém uma alta dose de hormônios sintéticos, geralmente de progesterona ou uma combinação de progesterona e estrogênio.


Embora a pílula do dia seguinte possa aumentar temporariamente o risco de trombose venosa, esse risco é geralmente considerado baixo devido ao caráter de uso em dose única.


No entanto, assim como com qualquer medicamento, existem alguns sintomas associados ao uso desse método, como náusea, vômito, dor abdominal, dor de cabeça e tontura.


Assim, a pílula do dia seguinte não deve ser usada regularmente como um método contraceptivo, principalmente por mulheres que estejam dentro dos grupos de risco mencionados.


Como vimos, apesar de haver associação do uso de anticoncepcionais e a ocorrência da trombose, este é um evento raro.


Além disso, o perfil da paciente é fundamental e pode interferir no aumento ou redução deste risco.   


Por isso, reforçamos que antes de iniciar o uso de qualquer método contraceptivo, é imprescindível agendar uma consulta médica. 


Assim, a ginecologista poderá ajudar a paciente a encontrar uma opção contraceptiva segura e baseada nas suas necessidades e condições de saúde!


Dra Juliana Ribeiro - Ginecologista em São Paulo

Dra. Juliana Ribeiro

Ginecologia, Obstetrícia e Saúde Feminina


Ginecologista e Obstetra de formação, eu acredito que informação é a maior forma de poder que podemos ter. Como médica, tenho a missão de trazer a vocês o maior número de informações possíveis, a fim de poder ajudá-las a participar ativamente do cuidado da sua saúde.


Acredito que a prevenção é a melhor escolha sempre e que o engajamento da paciente no tratamento é a melhor forma de ele dar certo.

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