Duas situações se enquadram neste tópico – diabetes pré gestacional (tipo I, tipo II ou outros tipos) e diabetes gestacional. A primeira engloba mulheres que já tinham diagnóstico de diabetes antes de engravidar e a segunda engloba aqueles casos de diabetes diagnosticado durante o pré natal.
Mulheres que já são diabéticas antes de engravidar precisam ter consciência dos riscos de desenvolvimento ou progressão de doenças.
Alguns problemas podem se agravar durante a gestação por causa da diabetes, entre eles, a retinopatia e a nefropatia diabéticas, sendo necessário acompanhamento rigoroso durante a gestação.
Já as mulheres que são diagnosticadas com diabetes gestacional, precisarão de alguns cuidados extras.
A mudança do estilo de vida é fundamental em ambos os casos, visando controlar a glicemia durante a gestação, a fim de evitar as complicações maternas e fetais que o diabetes pode causar.
Como eu sei que tenho diabetes?
Há diferentes protocolos de rastreamento de diabetes na gravidez. O que está descrito a seguir é um dos protocolos mais aceitos atualmente.
Durante o pré natal existem duas épocas para fazer o rastreamento do diabetes: no início da gravidez, através da dosagem da glicemia de jejum e no final do segundo trimestre, através da realização da curva glicêmica ou teste oral de tolerância à glicose.
Se no primeiro trimestre o valor da glicemia em jejum for a partir de 92 mg/dl, considera-se o diagnóstico de diabetes gestacional. Se o valor for a partir de 126 mg/dl, supõe-se o diagnóstico de diabetes pré gestacional ou overt diabetes.
Para as pacientes que tiveram o rastreio negativo no primeiro trimestre deve ser oferecido a realização da curva glicêmica com sobrecarga de 75g de glicose entre 24 e 28 semanas de idade gestacional. São realizadas neste momento três medidas da glicemia: uma em jejum, uma 1 hora e a última 2 horas após a administração de glicose via oral. Uma medida alterada faz o diagnóstico de diabetes gestacional.
E se eu já tenho diabetes?
Mulheres sabidamente portadoras de diabetes, independente do tipo, não necessitam realizar estes exames, mas devem ser submetidas a avaliação de hemoglobina glicada, a fim de definir o status do controle glicêmico pré gestacional. Diabetes descontrolado prévio a gestação está associado a malformações fetais em membros e cardíacas.
Eu fiz cirurgia bariátrica. Como saber se eu tenho diabetes?
Mulheres com antecedente de cirurgia bariátrica podem fazer a dosagem de glicemia em jejum mas não devem realizar curva glicêmica pelo risco de síndrome de dumping e hipoglicemia rebote. Este exame pode ser substituído pela realização ambulatorial ou residencial de glicemia capilar por alguns dias.
Quais os Riscos de Diabetes Descontrolado para a Gestação?
Diabetes descontrolado antes da concepção leva a um maior risco de:
- Aborto espontâneo;
- Malformações fetais;
- Pré-eclâmpsia;
Ao longo da gravidez, ausência de controle adequado pode levar a um risco aumentado de:
- Macrossomia;
- Polidrâmnio;
- Morte fetal;
- Distócia de ombro (dificuldade no parto vaginal quando a cabeça do neném sai, mas o ombro do bebê fica preso no canal de parto);
- Hipoglicemia neonatal;
- Hiperbilirrubinemia e icterícia neonatal;
- Hemorragia materna pós parto.
Além desses problemas, uma gestante diabética pode aumentar o risco de incidência de obesidade e diabetes tipo 2 na saúde do seu próprio filho além de aumentar o seu próprio risco de ter diabetes, obesidade e eventos cardiovasculares no futuro.
Prevenção de Diabetes Gestacional
Ao contrário do que muitas grávidas pensam, é possível tomar algumas atitudes para prevenir o surgimento do problema.
Uma delas é a adoção de uma alimentação saudável. Mulheres que ganham peso de forma rápida e muito acima do esperado são mais propensas a desenvolverem diabetes gestacional.
Por isso, um dos cuidados importantes na gestação é o controle do ganho de peso, tendo consciência de que isso é importante para o desenvolvimento saudável do feto.
Alimentação adequada e prática de exercícios físicos supervisionados são os dois principais pilares do controle do ganho de peso, e consequentemente, da prevenção do diabetes.
Os resultados são mais pronunciados quando essas práticas se iniciam antes do início da gestação.
Cessar tabagismo também é listado em vários estudos como medida preventiva do desenvolvimento de diabetes gestacional, além de todos os outros benefícios.
Tratamento de Diabetes Gestacional
Se a grávida apresenta diabetes gestacional, é importante começar o tratamento o quanto antes, visando reduzir os impactos dessa doença na saúde da mulher e do feto.
Não há como falar em tratamento de diabetes sem considerar a importante necessidade de mudança de hábitos.
O primeiro pilar do tratamento é a dieta. A grande maioria das pacientes atinge controle glicêmico adequado ao realizar a dieta com restrição de açúcares, preferencialmente supervisionada por uma nutricionista com experiência em gestação, a fim de garantir o aporte calórico e nutricional adequado para o bom desenvolvimento da gestação.
Adotar uma atividade física supervisionada e adaptada para a fase da gestação é uma outra opção para ajudar a controlar a glicemia.
Essas mudanças impactarão diretamente na qualidade da gestação, contribuindo inclusive para a formação de hábitos mais saudáveis para a vida da mulher.
Caso não se obtenha controle adequado da glicemia ou seja percebida repercussão fetal relacionada a isso, tais como aumento da quantidade de líquido amniótico ou crescimento fetal excessivo visualizados ao exame de ultrassonografia, é indicado o tratamento medicamentoso do diabetes.
A medicação mais estudada e utilizada é a insulina. É uma medicação injetável utilizada via subcutânea que pode ser administrada em diferentes padrões de uso ou dose, dependendo do tipo de insulina. Outra opção que vem sendo bastante estudada e utilizada, sem observação de efeitos indesejados é a metformina.
Para as pacientes previamente diabéticas que engravidam em uso de insulina ou metformina, de modo geral, há uma tendência a manter a medicação que mantém a glicemia controlada e ir fazendo ajustes conforme necessidade.
De modo geral, há acompanhamento conjunto da gestação pelo Obstetra que acompanha este pré natal de alto risco e pelo Endocrinologista, que irá ajudar a manejar o diabetes durante a gestação e após o parto. A escolha do regime de tratamento deve ser individualizado para cada paciente.
Especialmente para pacientes portadoras de diabetes tipo I, é fundamental um seguimento rigoroso durante a gravidez, devido risco aumentado de progressão e piora de nefro e retinopatia diabéticas, bem como de descontrole glicêmico, com crises de hipoglicemia sintomática ou cetoacidose diabéticos.
Diabetes Gestacional e Diabetes Tipo 2
Quem pensa que não existe relação entre as duas formas da doença, infelizmente está equivocado. De maneira geral, as mulheres que desenvolvem diabetes gestacional não continuam diabéticas após o parto.
No entanto, o risco de desenvolver diabetes tipo 2 é aumentado. Portanto, todos os cuidados indicados pelo obstetra durante a gestação devem ser continuados após o parto.
A mudança no estilo de vida, adotando uma alimentação mais saudável e voltando a praticar atividades físicas quando houver a liberação médica são passos fundamentais para tentar evitar o surgimento de diabetes tipo 2 no futuro.
Mulheres Diabéticas Podem Amamentar?
Independentemente do tipo de diabetes, não há nenhuma restrição à amamentação.
Deve ser encorajado contato pele a pele com o recém nascido e amamentação durante a primeira hora de vida, especialmente se o bebê nascer com mais de 4000g de peso, devido risco de hipoglicemia neonatal.
Por conta desse risco, na maioria das maternidades é feito controle de glicemia capilar do recém nascido e, em caso de hipoglicemia, pode ser recomendada suplementação com leite artificial até que a produção de leite materno seja suficiente para atender a demanda do bebê.
O post Diabetes Gestacional apareceu primeiro em Dra Juliana Teixeira Ribeiro.
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