Como definir a via de parto

admin • abr. 11, 2020
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Qual melhor tipo de parto?

A gravidez faz com que a mulher vivencie uma série de sentimentos, entre eles, a ansiedade, principalmente quando o assunto é a via de parto.

O objetivo dos profissionais que atendem essa demanda deve ser sempre humanizar esse processo, dando o máximo possível de informações para que a futura mamãe tenha a liberdade de escolher o que fizer mais sentido para ela e sua família.

Este é um tema muito atual, e nos últimos dez anos muito tem se discutido a respeito do parto, de como ele deve ser realizado, onde deve ser realizado, quem deve estar envolvido neste processo e do poder que tem a participação da mulher nesta escolha.

Vamos falar a seguir das principais características das duas vias de parto, ou seja, os processos pelos quais o bebê pode nascer.

Parto normal

O parto normal, também chamado de parto vaginal, é o mais convencional. É a via natural de nascimento.

O que é parto normal?

O parto é dito vaginal ou normal quando o bebê sai do corpo materno através da vagina, impulsionado pelas contrações uterinas, o tão aguardado trabalho de parto.

Como acontece o parto normal?

O processo de desenvolvimento do trabalho de parto pode acontecer espontaneamente, quando as contrações uterinas alcançam um ritmo e intensidade progressivos, com origem no fundo uterino em direção à região inferior, o que chamamos de tríplice gradiente descendente.

Este tipo de contração empurra o bebê para baixo, fazendo com que ocorra o nascimento.

Em que época acontece o parto normal?

Os mecanismos que levam ao surgimento desse tipo de contrações ainda é pouco compreendido. Usualmente acontecem quando a gravidez chega ao termo, ou seja, entre 37 e 40 semanas de idade gestacional. 

Em algumas mulheres o processo de sá antes de 37 semanas, o trabalho de parto prematuro; em outras, não há nenhum sinal de trabalho de parto até depois das 40 semanas, o chamado pós datismo.

A duração normal da gravidez vai até 40-42 semanas de idade gestacional. Com menores chances de complicação para o bebê quando parto acontece entre 39 e 40 semanas. 

Quem NÃO pode ter parto normal?

De modo geral, quase não há contraindicações, ou seja situações nas quais o parto normal não pode ser realizado. A maioria das contraindicações atuais são relativas, ou seja, o parto normal pode acontecer, mas está associado com maior risco do que realizar a cesariana.

As duas contraindicações absolutas ao parto vaginal são situações nas quais não há possibilidade de o bebê atravessar o canal de parto:

  • Bebê em posição córmica (o feto está deitado ou atravessado, em relação ao tronco materno);
  • Presença de algum componente na região inferior do canal de parto, de modo que impossibilite a passagem do bebê, tais como:
    • Mioma uterino volumoso na região inferior do útero;
    • Placenta prévia;
    • Tumor no colo do útero, vagina ou vulva;
    • Bebê muito grande para a pelve materna (somente pode ser feito este diagnóstico com a tentativa de parto vaginal e ausência de progressão do trabalho de parto).

Quem PODE ter parto normal?

Em todas as outras situações, o parto normal pode ser realizado. Mesmo mulheres que tem gestação de alto risco podem tentar entrar em trabalho de parto.

Quais as vantagens do parto vaginal?

O parto vaginal é o mais fisiológico, ou seja, nosso corpo está geneticamente programado para parir.

Para a mãe, as principais vantagens são:

  • Menor risco de sangramento;
  • Menor risco de infecção;
  • Menor risco de transfusão sanguínea;
  • Menor tempo de internação hospitalar;
  • Menor risco de morte associado unicamente ao parto;
  • Melhor recuperação pós parto e rápido retorno às atividades do dia a dia;
  • Início mais rápido do contato com o recém nascido e formação do vínculo;
  • Menos dor pós parto;

Para o neném, as principais vantagens são:

  • Melhor adaptação respiratória, com menor chance de precisar de ajuda para respirar ao nascer;
  • Menor risco de infecções e alergias respiratórias;
  • Maior chance de vínculo precoce com a mãe e amamentação na primeira hora de vida.

Quais as desvantagens do parto vaginal?

As principais desvantagens estão associadas com a imprevisibilidade do processo e mudanças no assoalho pélvico.

Não temos como prever quando vai iniciar o trabalho de parto, qual a sua duração e nem se realmente vai dar certo.

Somente podemos dizer que o parto foi normal após o nascimento do bebê. 

Todo trabalho de parto deve ser encarado como uma tentativa de parto normal, pois não temos como precisar se, uma vez iniciado o processo, o bebê realmente irá nascer por esta via.

Pode acontecer de o bebê não conseguir atravessar o canal de parto, o que chamamos de desproporção feto pélvica; pode acontecer de aparecerem sinais de sofrimento fetal durante o trabalho de parto. Nestas situações estará indicada mudança de plano, a fim de garantir a entrega de mãe e bebê saudáveis para a família.

Outra desvantagem é o risco de trauma dos músculos do assoalho pélvico materno, levando a sintomas como incontinência urinária ou fecal, rotura perineal, frouxidão vaginal, lesão do esfíncter anal. Com o manejo adequado do trabalho de parto e tratamento adequado, esses sintomas podem ser tratados, sem impacto permanente à qualidade de vida materna.

A dor do trabalho de parto também é vista como desvantagem ao escolher essa via e gera ainda mais ansiedade e medo nas mulheres. Outro ponto de ansiedade é a duração do parto normal, que pode levar até 12 horas em alguns casos. Importante esclarecer que com técnicas de analgesia adequada, o trabalho de parto pode ser tolerado sem maiores incômodos.

Parto cesárea

Este tipo de parto é uma cirurgia na qual o bebê é retirado do ventre materno através de uma incisão na região inferior do abdome.

Foi realizada pela primeira vez no ano de 1500, e o seu desenvolvimento revolucionou o modo de nascer. Através deste procedimento pode-se salvar muitas mães e bebês.

O que é a cesárea? Como ela é realizada?

A incisão desse tipo de parto é feita na região mais baixa da barriga, mais ou menos na linha em que iniciam os pelos pubianos, podendo variar de 10 a 12 centímetros de comprimento. 

São incisadas (cortadas) cinco camadas que compõem a parede abdominal e duas do  útero, a fim de trazer o bebê ao mundo. Após o nascimento, todas estas camadas são suturadas, de modo que se retorne à anatomia normal.

O procedimento é feito normalmente sob raquianestesia (anestesia regional, na qual a mulher fica acordada e sem sensibilidade da região inferior do corpo), mas em alguns casos pode ser necessária anestesia geral (quando a mulher recebe medicações venosas ou inalatórias, e fica inconsciente durante o parto).

Em que época a cesariana é realizada?

A cesariana pode ser agendada a partir de 39 semanas em mulheres com gestação de baixo risco, ou pode ser realizada antes disso se houver alguma indicação médica para antecipar a resolução da gestação.

Outras mulheres optam por não agendar o procedimento e realizar a cesárea quando entram em trabalho de parto, pois nesta situação há maior chance de o bebê já estar pronto para nascer.

Quem  NÃO pode realizar cesariana?

Não há uma contraindicação formal ao procedimento, pois todos os bebês precisam nascer e, caso o parto vaginal não seja possível por qualquer motivo que seja, a alternativa é a realização de uma cesariana.

Em situações em que a cesariana pode aumentar muito o risco de complicações maternas dá-se preferência pela realização do parto vaginal e somente se realiza a cesariana como última opção.

Quem DEVE realizar a cesariana?

Estas são as situações em que o parto vaginal não é possível, ou seja, indicações absolutas de parto por via alta:

  • Bebê córmico;
  • Situação em que o bebê está impossibilitado de atravessar o canal de parto.

Quem PODE realizar a cesariana?

Estas são situações em que a realização de cesariana pode minimizar os riscos de complicações maternas ou fetais, e a realização do procedimento é vista como boa prática médica. São as indicações relativas da cesariana:

  • Feto sentado (pélvico);
  • Gestação múltipla;
  • Sofrimento fetal agudo ou crônico;
  • Parto prematuro extremo;
  • Descompensação de doença materna;
  • Cicatrizes de cirurgias uterinas prévias (miomectomias ou múltiplas cesáreas anteriores);
  • Vasa prévia ou placenta anômala;
  • Descolamento prematuro de placenta;
  • Doenças maternas graves.

Além das cesáreas com indicação, hoje é possível a realização do procedimento por escolha do casal, após o devido esclarecimento de suas vantagens e, principalmente, desvantagens e riscos em comparação com parto vaginal.

Quais as vantagens da cesariana?

A cesárea  é uma forma efetiva de salvar mãe e bebê quando há uma situação de risco para qualquer um dos dois ou para ambos;

Muitas mulheres acabam optando por essa via de parto pela possibilidade de escolher a data de nascimento e também por não medo da dor que a via de parto vaginal pode causar.

O procedimento é controlado, ou seja, há data e hora para acontecer, bem como tem uma duração previsível. 

Apesar de acarretar alguns riscos adicionais comparativamente ao parto normal, é uma cirurgia extremamente segura, de modo que na imensa maioria dos casos não há complicações.

Quais as desvantagens da cesariana?

Como dito anteriormente, a cesariana é uma cirurgia extremamente segura, com mínimo risco de complicações nos dias atuais, quando realizada no ambiente e situações adequados.

Os riscos são citados em comparação com o parto vaginal, e alguns inerentes ao procedimento:

  • Maior risco de sangramento e infecção;
  • Maior risco de lesão de órgãos adjacentes, como bexiga e intestino;
  • Maior tempo de hospitalização;
  • Maior risco de mortalidade unicamente associada ao procedimento;
  • Maior risco de transfusão de sangue;
  • Maior risco de trombose venosa profunda;
  • Maior dor pós operatória e maior tempo de recuperação pós parto;
  • Maior chance de atraso na formação de vínculo com o recém nascido, em consequência da dor;
  • Maior chance de o recém nascido precisar de ajuda para respirar ao nascer, especialmente quando realizada  fora do trabalho de parto e antes de 39 semanas;
  • Dor crônica na pelve devido a formação de aderências;
  • Maior risco de placenta prévia e rotura uterina em gestações futuras.

E agora? Qual a melhor via de parto?

Para mim, como Ginecologista e Obstetra, a melhor via de parto é aquela que me permita entregar para a família uma mãe e um bebê saudáveis.

Para algumas mulheres será via vaginal, para outras cesariana. E, independente da forma que o bebê nasceu, os dois grupos de mulheres serão MÃES da mesma forma .

O momento do parto é um momento único na vida de cada família, e em cada gestação a evolução pode ser diferente. 

Mas é muito importante lembrar que a via de parto é apenas uma via, uma forma de o bebê vir ao mundo. É apenas um meio para conseguir o objetivo mais precioso: o seu neném .

Então, mulher, se informe, tire suas dúvidas, encontre informações de confiança. Tenha uma Equipe que te dê todas as informações que você precisa e o suporte necessário para fazer uma escolha consciente e adaptada à sua realidade!

Dra Juliana Ribeiro - Ginecologista em São Paulo

Dra. Juliana Ribeiro

Ginecologia, Obstetrícia e Saúde Feminina


Ginecologista e Obstetra de formação, eu acredito que informação é a maior forma de poder que podemos ter. Como médica, tenho a missão de trazer a vocês o maior número de informações possíveis, a fim de poder ajudá-las a participar ativamente do cuidado da sua saúde.


Acredito que a prevenção é a melhor escolha sempre e que o engajamento da paciente no tratamento é a melhor forma de ele dar certo.

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