Amamentação – da Preparação Antes do Parto às Principais Dificuldades
A amamentação é um processo muito importante para mãe e o bebê, mas que gera muitas dúvidas e algumas dificuldades para as mulheres.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o ideal é que o aleitamento materno ocorra por um período mínimo de 6 meses e poderá ser feita até por volta dos 2 anos, ou até quando mãe e filho acharem necessário.
Diversos serão os benefícios da amamentação para a mãe e o neném e, para que tudo corra bem, a mulher precisará mergulhar em um processo de aprendizagem, paciência e, principalmente, persistência.
Quais são os passos iniciais para a amamentação?
A preparação da mulher para a amamentação deve iniciar ainda na gravidez de modo que a mãe e o bebê possam vivenciar este processo de forma satisfatória e tranquila.
Durante o pré-natal, será importante entender as vantagens da amamentação para a mulher e a criança, além de buscar todas as informações possíveis sobre como será o processo, bem como as possíveis dificuldades. É interessante aprender o que leva à produção de leite e técnicas de massagem e ordenha das mamas, bem como de higiene e armazenamento do leite.
Embora não haja uma preparação específica para as mamas, existem alguns cuidados especiais que podem ajudar:
- Avaliar as mamas na consulta de pré-natal – orientações específicas podem ser dadas, dependendo do tamanho, cirurgias prévias, formato dos mamilos;
- Utilizar sutiã durante a gestação – o suporte adequado das mamas enquanto elas mudam e se preparam para a lactação pode reduzir as chances de flacidez e desconforto pelo peso ou tamanho das mamas que pode mudar;
- Fazer banhos de sol nas mamas por 15 minutos (até 10 horas da manhã ou após as 16 horas) – esta estratégia teria a função de “melhorar” a resistência dos mamilos, reduzindo a chance de fissuras;
- Evitar utilizar cremes, pomadas ou sabões em excesso nos mamilos;
- Não há necessidade de conchas de preparação ou exercícios de tração nos mamilos – estas estratégias costumam causar dor/ desconforto e não tem benefício comprovado;
- Não tentar fazer a ordenha do peito durante a gestação.
A descida do leite materno, ou apojadura, ocorre ao longo da primeira semana após o parto. Porém, o recém-nascido deverá ser colocado para mamar logo após o nascimento, preferencialmente durante a primeira hora de vida, a Golden Hour. Esta estratégia ajuda na formação de vínculo entre mãe e bebê, e está associada com maior chance de sucesso na amamentação.
Apesar de a apojadura não estar diretamente vinculada à produção hormonal, com a sucção do peito a liberação de prolactina e ocitocina será estimulada, com consequente produção e liberação do leite.
Além disso, antes do leite descer virá o colostro, líquido rico em sais minerais, proteínas e anticorpos, que serão importantes para proteger o bebê contra infecções. Este “leite inicial” mais claro e em menor quantidade pode ser notado já no primeiro dia após o parto.
É muito importante notar que ao nascimento o estômago do bebê é muito pequeno, e mesmo as pequenas quantidades de colostro costumam ser suficientes para manter o bebê nutrido.
Assim como as mamães de primeira viagem não sabem amamentar, o bebê também precisa aprender a mamar. E ainda na maternidade serão observados as mamas, as mamadas, a pega e a sucção do recém nascido.
Posicionamento e Pega adequados
Este deve ser o principal foco de aprendizado da mamãe. Embora a sucção do recém-nascido seja um ato reflexo, ele precisa aprender a retirar o leite do peito de forma eficiente. Quando o bebê pega a mama adequadamente – o que requer uma abertura ampla da boca, abocanhando não apenas o mamilo, mas também parte da aréola –, forma-se um lacre perfeito entre a boca e a mama, garantindo a formação do vácuo, indispensável para que o mamilo e a aréola se mantenham dentro da boca do bebê.
A língua eleva suas bordas laterais e a ponta, formando uma concha (canolamento) que leva o leite até a faringe posterior e esôfago, ativando o reflexo de deglutição. A retirada do leite (ordenha) é feita pela língua, graças a um movimento peristáltico rítmico da ponta da língua para trás, que comprime suavemente o mamilo. Enquanto mama no peito, o bebê respira pelo nariz, estabelecendo o padrão normal de respiração nasal.
O ciclo de movimentos mandibulares (para baixo, para a frente, para cima e para trás) promove o crescimento harmônico da face do bebê.
A técnica de amamentação, ou seja, a maneira como a dupla mãe/bebê se posiciona para amamentar/mamar e a pega/sucção do bebê são muito importantes para que o bebê consiga retirar, de maneira eficiente, o leite da mama e também para não machucar os mamilos.
No começo amamentar parece muito difícil, mas em pouco tempo a mãe e o neném encontrarão uma forma de fazer a amamentação dar certo.
Será importante ter uma posição confortável, normalmente em uma poltrona com braços ou sofá ou cama com uso de uma almofada ou travesseiro para apoiar o bebê.
Pontos-chave do posicionamento adequado:
- Rosto do bebê de frente para a mama, com nariz na altura do mamilo;
- Corpo do bebê próximo ao da mãe;
- Bebê com cabeça e tronco alinhados (pescoço não torcido);
- Bebê bem apoiado.
Pontos-chave da pega adequada:
- Mais aréola visível acima da boca do bebê;
- Boca bem aberta;
- Lábio inferior virado para fora;
- Queixo tocando a mama.
Fonte : Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: Aleitamento materno e alimentação complementar / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015. 184 p. : il. – (Cadernos de Atenção Básica ; n. 23)
Quais os benefícios da amamentação para o bebê e para a mãe?
O leite materno é rico em proteínas, sais minerais, hidrato de carbono (açúcar) e gordura, sendo o alimento mais indicado para o bebê, pois além de completo é altamente personalizado para aquela criança.
Durante os seis primeiros meses de vida não será preciso oferecer nenhum alimento a mais para a criança, nem mesmo água ou chás. Isso porque, o leite materno é o alimento mais completo que existe e tem, inclusive, água suficiente para hidratar o neném.
Algumas mulheres têm dúvidas em relação ao que devem fazer para estimular a produção de leite. O maior estímulo será a própria amamentação.
O sucessivo processo de enchimento e esvaziamento das mamas mantém o estímulo à liberação de prolactina, que mantém a produção de mais leite. A maior parte do leite materno é produzido enquanto o bebê está mamando, por isso às vezes não notamos o seio ficar tão cheio.
Além disso, será essencial consumir bastante água (de 2 a 3 litros por dia) e, ao contrário do que muitos pensam, não há indicações de alimentos específicos que auxiliem a produção de leite.
Diversas são as vantagens da amamentação para o bebê e para a mãe.
Para o neném:
- Facilita a eliminação de mecônio (primeiras fezes) e diminui a incidência de icterícia (coloração amarelada da pele pela produção de bilirrubinas);
- Protege contra infecções;
- Diminui os riscos de desenvolvimento de alergias;
- Diminui risco de hipertensão, colesterol alto, obesidade e diabetes na infância e na idade adulta;
- Aumenta o vínculo afetivo;
- Favorece a capacidade cognitiva.
Para a mulher:
- Favorece a contratilidade do útero e reduz o risco de hemorragia;
- Auxilia na perda de peso e retorno ao peso pré gravídico;
- Contribui para o aumento do intervalo entre gestações;
- Fortalece o vínculo afetivo com o neném;
- Promove contracepção;
- Diminui as internações e seus custos;
- É gratuito.
Diante de tais vantagens, recomenda-se que amamentação prossiga, mesmo quando a mãe voltar ao trabalho.
Será possível ordenhar o leite e, enquanto a mulher estiver fora, o cuidador da criança dar o leite utilizando um copo específico para isso ou mesmo mamadeiras.
E sobre as mamadas propriamente ditas?
A duração das mamadas e a quantidade de leite sugado irá depender de cada criança.
Depois que a amamentação já for um processo normal, geralmente, um tempo de 10 a 20 minutos será suficiente. O neném é que irá determinar se um peito basta ou se precisará mamar os dois.
Pode ser que no início, quando a mãe e o neném ainda estiverem se adaptando a este processo, as mamadas sejam mais longas. Até porque o bebê pode “cansar” e tentar tirar sonecas durante o aleitamento.
Indicamos o chamado aleitamento materno sob livre demanda, ou seja, o bebê mama o tempo que quer, na hora que quer.
Recomenda-se nos primeiros dias após o nascimento não ultrapassar três a quatro horas de intervalo , pelo risco do bebê fazer episódios de hipoglicemia (queda do açúcar no sangue). À medida que os dias e semanas passam, pode-se ir aumentando esses intervalos.
E a quantidade de leite ? É comum a mãe ter dúvidas se a criança mamou o suficiente. No geral, a criança satisfeita fica muito tranquila e relaxada após mamar e costuma dormir por períodos mais prolongados.
Não existe uma quantidade específica, um número de mililitros, que o bebê em aleitamento materno exclusivo precise mamar. Para os bebês em uso de fórmula láctea, na própria embalagem do leite vem as sugestões para preparação do mesmo a depender do tempo de vida da criança.
Outro indicativo pode ser a quantidade de xixi ao longo do dia. Cada criança terá sua característica, mas normalmente a quantidade de xixi deverá demandar cerca de seis fraldas por dia. Ou um xixi após cada mamada. No início as fraldas não costumam ficar tão cheias, então fique tranquila se o seu neném faz vários “mini xixis” ao longo do dia.
Já quando o assunto é o cocô a variabilidade é ainda maior. O nosso corpo é tão fantástico que o leite materno é fabricado de modo altamente personalizado para aquele neném, naquele momento. A sua composição pode variar ao longo dos dias e mesmo ao longo do mesmo dia, a depender das necessidades.
Por conta disso, bebês em aleitamento materno podem apresentar desde uma evacuação por mamada (8-10 por dia) até uma evacuação a cada nove ou dez dias. E esta variabilidade é completamente normal.
Outra dúvida corriqueira é sobre a necessidade do bebê arrotar após a mamada.
O ideal será segurar a criança junto ao seu corpo e deixar o corpinho do neném o mais verticalizado possível, encostado ao seu, por cerca de dez a quinze minutos.
O arroto ocorre graças à ingestão de ar durante a mamada. Porém, caso a pega no peito seja feita corretamente, pode ocorrer do bebê não arrotar, pois praticamente não engoliu ar enquanto mamava. Principalmente em bebês que estão em aleitamento materno exclusivo.
É extremamente importante ter um acompanhamento de um Pediatra desde a alta hospitalar. Ao sair da maternidade, já ter uma consulta agendada, preferencialmente em até uma semana.
Além de acompanhar tudo isso, o Pediatra vai checar o resultado do teste do pezinho, avaliar as condições de crescimento e recuperação do peso de nascimento. É o Pediatra que acompanha o bebê desde o nascimento e por toda a infância.
Quais as principais dificuldades enfrentadas na amamentação?
O início da amamentação é a fase que oferece os maiores desafios. Será neste período que a mulher aprenderá a amamentar e a criança aprenderá a mamar.
Esta etapa requer muita paciência e persistência e, após superadas as dificuldades iniciais, amamentar costuma ser muito prazeroso para a mãe e o neném.
É fundamental a presença de suporte familiar e emocional à recém mãe. Os horários de sono irregulares, cansaço, e possíveis influências externas negativas podem acabar atrapalhando o aleitamento materno.
Os problemas mais comuns que poderão ocorrer:
Fissuras nos mamilos
As fissuras nos mamilos ocorrem, principalmente, devido à pega inadequada do bebê. Se formam rachaduras na pele do mamilo, que tendem a ser dolorosas e podem até sangrar. Com tratamento adequado costumam ser facilmente resolvidas.
A principal medida para prevenção e tratamento das fissuras é a correção de posicionamento e pega durante as mamadas. Se não houver esta correção, nenhuma medida poderá impedir de novas fissuras ocorrerem.
Para este caso são recomendados:
- Banhos de sol nas mamas pela manhã ou fim de tarde por dez a quinze minutos. Isso ajuda a fortalecê-las.
- Uso do leite materno nas lesões após cada mamada para auxiliar a cicatrização.
- Uso de Lanolina, um produto que ajuda na prevenção e na cura das fissuras.
Fissuras maiores e mais profundas podem se beneficiar do tratamento com laser.
Não há necessidade de suspender a amamentação e podem ser utilizados analgésicos ou antiinflamatórios para reduzir a dor e tornar o aleitamento possível.
Outra técnica que pode ser usada enquanto as fissuras não cicatrizam é a massagem e ordenha manual das mamas, com oferta do leite ordenhado em copo, colher ou colher dosadora. Ao utilizar estes processos é mantido o estímulo à produção láctea e o aleitamento materno e criamos maior intervalo de tempo para os mamilos se recuperarem.
Ingurgitamento das mamas
Geralmente acontece nos primeiros dias em que o leite desce. A amamentação não costuma estar bem estabelecida e bebê e mamãe ainda estão se conhecendo. O leite costuma vir geralmente em maior quantidade do que o bebê realmente é capaz de mamar.
Também conhecido como “empedramento das mamas”, esta condição gera dor, as mamas podem ficar edemaciadas (inchadas e com pele brilhante), avermelhadas e a mulher pode ter febre, dor no peito e às vezes até mesmo calafrios.
É muito importante manter a sustentação das mamas com sutiã de tamanho adequado. Assim conseguimos “limitar” um pouco a produção excessiva de leite, impedindo que o seio fique muito cheio.
A solução será retirar o leite manualmente sempre que houver produção excessiva. O ideal é que a ordenha manual seja aprendida ainda no pré-natal. Devemos fazer massagens com movimentos circulares antes da ordenha propriamente dita.
Existem acessórios que auxiliam neste processo, mas é preciso cuidado com os ordenhadores mecânicos, pois com uso inadequado podem causar fissuras e com higiene inadequada podem acabar contaminando o leite ordenhado.
Evitar o uso de bicos artificiais e banhos muito quentes também ajudam no processo.
Caso haja dificuldade com as massagens e ordenha, é importante pedir ajuda, pois as mamas muito cheias costumam causar muito incômodo à mãe e dificultar a pega do bebê, sendo fator de risco para surgimento de fissuras.
Mastites
Mastites são inflamações ou infecções das mamas. Normalmente, ocorrem somente de um lado e podem ser consequência de um empedramento ou fissuras indevidamente tratados.
Para estas ocorrências o médico deverá ser consultado e indicará a medicação adequada e, sempre que possível, a amamentação na mama afetada deverá continuar.
Em alguns casos será preciso o uso de antibióticos ou mesmo drenagem cirúrgica da mama, caso haja a formação de abscessos.
Resumindo…
Vimos que a amamentação é um processo importante que traz diversos benefícios para a mãe e o bebê. Todavia, será também um momento de muitos desafios que exigirá paciência e persistência.
A preparação da mulher para este momento deverá ser feita já na gravidez, com orientações e informações passadas desde o pré-natal.
Além disso, o apoio e acompanhamento será essencial após o nascimento do bebê de modo a auxiliar e facilitar este processo para que a mãe consiga superar as dificuldades inerentes ao início da amamentação.
Tenha calma e peça ajuda se precisar . A informação será sua maior aliada a manter a amamentação!
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