Meu corrimento é normal?

admin • dez. 28, 2020
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Provavelmente, você já se questionou se seu corrimento é normal.

Muitas mulheres têm dúvidas em relação à secreção vaginal. Seja devido a quantidade, cor ou odor, e este é um questionamento muito comum no consultório.

Então, a primeira informação que preciso te passar é que ter algum grau de corrimento vaginal é perfeitamente normal.

Mulheres em idade reprodutiva têm conteúdo vaginal, que é formado por células descamadas da vagina e colo uterino, bactérias e células de defesa da região genital e secreção das células cervicais.

A quantidade desta secreção, normalmente, varia entre 2 a 5 ml de conteúdo por dia e pode ter mudança de cor, aspecto e quantidade dependendo da fase do ciclo menstrual.

Contudo, apesar de na maioria das vezes as secreções vaginais serem normais, em alguns casos podem haver sinais de que algo não vai bem. 

Por isso, é essencial conhecer um pouco mais sobre esse assunto, que vamos abordar ao longo deste artigo.

Entenda um pouco mais sobre a flora vaginal

A vagina possui uma série de microrganismos, principalmente os lactobacilos, que compõe a flora vaginal.

Hoje sabemos que há cinco tipos de flora vaginal:

  • tipos I, II, III e V são globalmente dominados por espécies de lactobacilos:  Lactobacillus crispatus , Lactobacillus gasseri , Lactobacillus iners e Lactobacillus jensenii respectivamente;
  • tipo IV, que pode ainda ser subdividido em IV-A e IV-B, está associado a maior diversidade:
    • IV-A apresenta apenas baixa quantidade de Lactobacillus , coabitando estes em conjunto com bactérias estritamente anaeróbias ou facultativas tais como Anaerococcus , Corynebacterium , Finegoldia e Streptococcus;
    • IV-B é praticamente desprovido na totalidade de Lactobacillus sendo os respectivos componentes mais abundantes: os géneros Atopobium , Prevotella , Parvimonas , Sneathia , Gardnerella , Mobiluncus e Peptoniphilus. O tipo de composição microbiana deste tipo de flora é o habitualmente associado à vaginose bacteriana (definida por scores de Nugent , em que 7 a 10 corresponde a infecção no exame bacterioscópico).

Dra-juliana-ribeiro-flora-vaginal

Quando esses bichinhos vivem em equilíbrio, a flora vaginal tem a função de proteger a região íntima contra infecções por outros microrganismos patogênicos, além de regular seu pH e umidade.

Uma curiosidade, é que o pH normal da vagina fica em torno de 4,5 a 5, ou seja, é ácido. Esse pH é mantido pela produção de ácido láctico pelos lactobacilos e também é um cofator da proteção da vagina.

Dessa maneira, o uso de sabonetes neutros, que geralmente tem pH por volta de 7, pode desequilibrar as condições da região. Então, o mais indicado é utilizar sabonetes próprios para a higiene íntima.  

Na realidade, o equilíbrio da região vaginal é muito sensível às mudanças, sejam elas provenientes de dentro ou de fora do nosso corpo.

Assim, diversos são os fatores capazes de desequilibrar a região, por exemplo:

  • Diferentes fases do ciclo menstrual;
  • Idade;
  • Gestação;
  • Uso de contraceptivos;
  • Frequência de intercurso sexual;
  • Uso ou não de condom;
  • Falta ou excesso de higiene;
  • Utilização de ducha vaginal ou produtos desodorantes;
  • Mudança brusca na alimentação;
  • Uso de antibióticos;
  • Uso de cremes ou outras substâncias na vagina;
  • Relações sexuais.

Quando a flora vaginal está em equilíbrio, a mulher terá um corrimento normal, que irá variar sutilmente ao longo do mês devido ciclo menstrual (se ela não utilizar anticoncepcionais).

Caso ocorra alguma alteração na região genital, ela poderá sofrer a invasão de alguma bactéria, fungo ou protozoário, podendo desenvolver doenças que alteram significativamente as características do corrimento.

Dessa maneira, conhecer os diferentes tipos de corrimentos saudáveis e aqueles que indicam algum problema de saúde é essencial.

Os diferentes tipos de corrimentos saudáveis

Como falamos, o corrimento irá sofrer pequenas alterações de seu aspecto ao longo do mês. Vamos então abordar estas alterações do corrimento vaginal normal, que também chamamos de corrimento vaginal fisiológico.

Dra-juliana-ribeiro-corrimento

Secreção branca e fluida

Um corrimento mais espesso, branco ou transparente é considerado normal e ocorrerá na maior parte do mês. Como já citamos anteriormente, é formado por bactérias da região genital, secreção das células cervicais e células descamativas da vagina e colo uterino.

Eventualmente, podem ter algum cheiro muito sutil, pois se misturam com o suor formado na região externa próxima da região genital. 

Em contato com o ambiente externo, pode sofrer alteração de cor, podendo ser visto na calcinha com coloração acinzentada ou amarelada.

De modo geral, sua quantidade é bem pequena.

Secreção similar à clara de ovo

Quando o corrimento fica mais fluido, filante e elástico, similar à clara de ovo, ele está anunciando que a ovulação está para ocorrer.

Este corrimento, liberado pelo colo do útero poucos dias antes da ovulação, serve para auxiliar os espermatozoides a chegarem ao óvulo.

Muitas mulheres não chegam a perceber esta característica todos os meses e podem estranhar quando se deparam com o muco mais filante, mas fiquem tranquilas que ele é normal! 

Secreção espessa, branca ou levemente amarelada

Quando o corrimento aparece em menor quantidade, mais espesso, branco ou levemente amarelado, ele indica que a menstruação está para chegar.

Essa mudança em sua característica se dá devido as diversas alterações hormonais que a mulher passa neste período, e decorre do aumento da progesterona.

Esteja atenta, pois este corrimento não costuma ter odor e não é acompanhado de nenhum outro sintoma.

Secreção marrom, similar à borra de café

Eventualmente, o corrimento poderá ser amarronzado, parecendo uma borra de café. 

Esta secreção poderá ocorrer por diversos motivos, por exemplo:

  • Escapes para mulheres que usam anticoncepcionais;
  • Sangramento devido alteração hormonal brusca em caso de uso da pílula do dia seguinte;
  • Pequeno sangramento devido a ovulação;
  • Início ou término da menstruação.

Na maioria dos casos, isso não indicará nenhum problema de saúde. 

Para quem usa contraceptivos hormonais, pode ficar tranquila que não indica nenhuma alteração de eficácia! É preciso ficar atenta se eles passarem a ocorrer com maior frequência e intensidade, pois pode ser um indício de necessidade de troca do contraceptivo. 

Quando o corrimento é um sinal de alerta para procurar a Ginecologista

Agora que vimos todas as situações nas quais o corrimento é considerado normal, é preciso saber quando ele pode ser um sinal de alerta!

Dra-juliana-ribeiro-ginecologista

Assim, alguns indícios de problemas são: 

  • Coloração mais forte, amarelada ou esverdeada, com bolhas;
  • Odor forte e desagradável, semelhante a peixe ou substâncias em apodrecimento;
  • Sintomas associados, como coceira, ardor ou desconforto ao urinar;
  • Dor às relações sexuais.

Esteja atenta a estes tipos de secreções vaginais:

Secreção abundante, amarelada ou acinzentada, com mau cheiro

Caso o corrimento se torne abundante e apresente uma cor muito amarelada ou acinzentada, seja granulado e com forte mau cheiro, provavelmente, isso será sinal de uma alteração na flora vagina, que também chamamos de vaginose bacteriana.

Nos casos de vaginose bacteriana esta secreção não acompanha outros sintomas inflamatórios, então, será muito importante ter atenção nas alterações do corrimento.

Secreção abundante, branca ou amarelada, com grumos, sem mau cheiro

Em outra situação, pode ocorrer um corrimento esbranquiçado, mas sem odor e acompanhado de coceiras intensas, inchaço, sensibilidade, irritação e ardor. Nestes casos, possivelmente estaremos diante da Candidíase, uma infecção causada por um fungo. 

O tratamento da vaginose bacteriana e da candidíase são muito diferentes. Por isso, é essencial que, ao sentir esses incômodos, você procure imediatamente uma Ginecologista para te examinar e iniciar o tratamento adequado.

Secreção amarelada ou esverdeada, bolhosa

Quando a mulher passa a ter um corrimento amarelado ou esverdeado e bolhoso, na maioria dos casos, isso será sinal da Tricomoníase, uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) causada por um protozoário.

Normalmente, esta infecção causa dor e desconforto durante a relação sexual e coceira vaginal intensa. Lembrando que podemos evitá-la com o uso de preservativos!

Dra-juliana-ribeiro-prevencao-doenca

O tratamento na mulher será com uso de medicamentos por via oral e pomada vaginal.

Será necessário também um período de abstinência sexual, além de ser essencial que o (a) parceiro (a) também se trate, de modo a evitar uma reinfecção. 

Atenção para o fato de que essas características podem estar presentes em outros tipos de vaginites, que são menos frequentes. Logo, quando não há boa resposta ao tratamento proposto, devemos ficar atentos a outras possibilidades diagnósticas: uretrites ou cervicites por clamídia ou neisseria (outras IST), vaginites citolíticas, vaginite inflamatória descamativa, vaginite atrófica, ou mesmo manifestações vulvares de doenças dermatológicas.

Na presença desses sinais, você deve procurar imediatamente uma Ginecologista! 

O uso de medicamentos que já tem em casa e funcionaram em outras vezes ou auto medicação sugerida por conhecidos pode atrasar o diagnóstico correto e favorecer à cronificação do quadro.

Em resumo….

Como vimos, o corrimento vaginal, na maioria das vezes, é uma condição normal e indica que está tudo bem com sua saúde.

Todavia, ele pode ser um sinal de alerta de alguma infecção, caso tenha características específicas.

Conhecer o próprio corpo é muito importante para viver com tranquilidade e conseguir captar as mensagens que ele nos dá de que algo pode estar errado.

Caso sinta alterações significativas em seu corrimento, procure uma Ginecologista.

Dra Juliana Ribeiro - Ginecologista em São Paulo

Dra. Juliana Ribeiro

Ginecologia, Obstetrícia e Saúde Feminina


Ginecologista e Obstetra de formação, eu acredito que informação é a maior forma de poder que podemos ter. Como médica, tenho a missão de trazer a vocês o maior número de informações possíveis, a fim de poder ajudá-las a participar ativamente do cuidado da sua saúde.


Acredito que a prevenção é a melhor escolha sempre e que o engajamento da paciente no tratamento é a melhor forma de ele dar certo.

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